Opinião de Teresa Campos
“Criticar”, no dicionário da língua portuguesa, significa “encontrar defeitos”. “Sentido crítico” significa “capacidade de refletir”. “Humildade” significa “razão”.
Melhor do que comer chocolate 90% de cacau é comer chocolate que nos dê prazer. Critica-se o segundo e substitui-se pelo primeiro mas come-se só por comer. Isso é um descaso. E a consistência? E o prazer? O chocolate com mais cacau é melhor por ser mais saudável mas aquele chocolate que é mais “saboroso“ pode valer mais a pena (depende dos gostos, naturalmente!). O chocolate 90% de cacau é a analogia para a palavra “indiscernimento”. Podia encontrar outras analogias: barritas de cereais, panquecas e manteiga de amendoim. Serão sempre tentativas de cópia de escolhas alimentares mais sensatas. Não interessa refletir sobre o seu verdadeiro valor mas que vence os “defeitos“ do outro. É preferível ser radical, sem se refletir se satisfaz realmente as necessidades e se daí retiramos prazer.
Uma nutricionista não substitui alimentos por substituir, em raciocínios pouco refletidos ou mesmo irracionais. Uma nutricionista lida com comportamentos e está ali para compreender a ingestão alimentar da pessoa, os estímulos que lhe dizem para comer assim ou substituir aquele alimento por outro e, sobretudo para mostrar que a ciência é o princípio de qualquer orientação e, não as modas ou os posts nas redes sociais. É legítimo que a pessoa sinta que a solução possa estar na “novidade científica“. Mas a nutricionista vai ajudar a pessoa a refletir sobre conceitos, a parar e a chamá-la à “razão“ e à verdadeira ciência. A necessidade do “diferente“ é outro descaso. Se toda a gente segue o “diferente“, a dada altura, passará a ser o “normal“, certo?
O problema que existe na sociedade de hoje é esta procura de identidade pessoal e profissional. Há a confusão que será pelo “diferente“ e pela “imposição“ que marcamos a nossa posição. Quer-se dar mais força à “voz“ e vencer a humildade e a razão apenas apontando defeitos, num exercício constante, exaustivo e extenuante de crítica mas, sem sentido crítico.
A revolução alimentar possibilitou transformarmos os alimentos mas dentro dessa revolução, a escolha não pode ser radical e apontar apenas para os alimentos mais naturais ou, apenas para os alimentos mais processados. “Pôr no canto do prato” é mais uma expressão popular que permite aceitar que podemos bem selecionar o que queremos sem posturas intolerantes ou irracionais. A tolerância é um sinal claro de razão e de serenidade. E é, depois, o que é sólido e reconhecido.