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OPINIÃO

OPINIÃO -
Psicologia e psicoterapia

Texto de Hélder Araújo Neto (psicólogo clínico)

“O meu pai não acredita na psicologia.” Esta foi a frase dita por uma paciente que inspirou este texto. Pretendo tentar desmistificar esta crença, porque percebo que ela grassa cada vez mais. Para começar, a psicologia é uma ciência, não é algo em que se acredite ou deixe de acreditar; é como se alguém dissesse “não acredito na física, a lei da gravidade para mim não faz sentido.” Só compreendo a frase, dita pelo pai da paciente, na medida em que existem muitas “terapias” alternativas e muitos vendedores de banha da cobra que continuam a prejudicar as pessoas.

Mesmo que essas “terapias” sejam inócuas, estão a causar dano às pessoas que as procuram porque estão a privá-las de um tratamento sério e assim fazendo-as perder tempo, que pode ser precioso, para resolver os seus problemas. Não quero alongar muito esta introdução porque este tema daria para vários artigos. Quero, antes, focar-me na importância da Psicologia, não no seu sentido mais lato, mas, mais concretamente, na eficácia da psicoterapia.

Existem vários estudos com neuroimagem que revelam que a psicoterapia pode modificar a atividade cerebral. Por exemplo, em pessoas com depressão, há evidências de que tratamentos como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) podem reduzir a hiperatividade na amígdala, região associada à resposta ao medo e ao “stress”, e fortalecer conexões, por via de neurogénese, em áreas relacionadas com o controlo emocional.

A psicoterapia tem-se consolidado como um dos métodos mais eficazes para tratar problemas de saúde mental como a ansiedade, a depressão, traumas, entre outros. A psicoterapia funciona porque envolve fatores psicológicos, biológicos e sociais num processo complexo. Há evidência científica que aponta para que um dos elementos-chave da eficácia da psicoterapia seja a relação e a aliança terapêutica. Trata-se do vínculo de confiança e colaboração entre paciente e terapeuta. Sentir-se ouvido, compreendido e não julgado permite que o paciente explore os seus pensamentos e sentimentos com maior liberdade.

Tem bons resultados, também, porque é uma experiência profundamente individual. Cada sessão é um espaço para que o paciente reflita, entenda as suas emoções e tome decisões mais conscientes sobre a sua vida. Outro fator central é a reestruturação cognitiva, especialmente em terapias baseadas na TCC, que é o meu modelo de eleição. O paciente aprende a identificar padrões de pensamento distorcidos, ou negativos, e a substituí-los por formas mais equilibradas, realistas e melhor adaptativas. Esse processo não apenas alivia sintomas, mas também capacita o indivíduo, com ferramentas, a lidar melhor com desafios futuros.

A psicoterapia é mais do que uma conversa. Ela baseia-se em princípios científicos sólidos, que envolvem a relação humana, a plasticidade cerebral e a mudança de comportamentos. É um processo transformador que, quando bem conduzido, oferece alívio e novas perspetivas para quem procura ajuda.

Se o caro leitor enfrenta dificuldades emocionais, não hesite em considerar esta forma de tratamento. Recomendo, assim, que escolha um bom terapeuta, que tente munir-se de boa informação porque, como em todas as profissões, existem bons e maus profissionais.

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