Artigo de Hélder Araújo Neto, Psicólogo
Escrevo este texto, com este tema, por sugestão de um caríssimo leitor. Sugeriu-me que escrevesse algo acerca do trabalho por turnos, e o seu impacto. Costumo escrever sobre temáticas relacionadas com a saúde mental e construtos psicológicos, e, assim sendo, integro o tema sugerido na síndrome de “burnout”.
O “burnout”, ou síndrome de esgotamento profissional, é um tipo de “stress” especificamente ligado a uma atividade profissional, ou seja, de “stress”, provocado pelo trabalho. É caracterizado, sobretudo, pela diminuição do envolvimento pessoal no trabalho e pela exaustão emocional. Foi no dia 1 de janeiro de 2022 classificado como doença pela Organização Mundial da Saúde.
A síndrome de “burnout” não acontece de um dia para o outro, sendo decorrente de um processo de desenvolvimento de possíveis sintomas, que podemos elencar em três categorias: físicos; psicológicos; comportamentais.
A saber, sintomas físicos: fadiga constante e progressiva (este é o sintoma mais referido pela maioria das pessoas), mialgias ou dores articulares, distúrbios do sono, cefaleias, enxaquecas, perturbações gastrointestinais, perda ou ganho exagerado de apetite, baixa imunidade, perturbações cardiovasculares, distúrbios do sistema respiratório, disfunção sexual, alterações menstruais.
Sintomas psicológicos: falta de atenção e concentração, alterações da memória, pensamento lentificado, sentimento de alienação, sentimento de solidão, impaciência, sentimento de impotência, instabilidade emocional, baixa autoestima, desânimo, disforia, depressão, e sentimento de desconfiança que pode evoluir para paranoia.
Sintomas comportamentais: negligência, comportamentos aditivos, irritabilidade, aumento da agressividade, incapacidade de relaxar, dificuldade na aceitação de mudanças, perda de iniciativa, e comportamentos de alto risco podendo mesmo chegar ao suicídio.
Esta doença pode afetar qualquer trabalhador, de qualquer profissão, embora haja profissões que são mais propensas a ser acometidas por ela, tais como as que estão organizadas em regime de trabalho por turnos. Estas atividades, para assegurar uma continuidade dos serviços prestados, provocam nos trabalhadores efeitos decorrentes das alterações do ciclo circadiano, potenciando, desta forma, o desenvolvimento da síndrome.
Mas, as causas podem ser várias. Assim, cargas de trabalho superiores à capacidade do profissional; falta de autonomia e controlo sobre as tarefas e a organização do trabalho; baixo propósito ou significado das tarefas realizadas; realização de tarefas perigosas ou de grande exigência emocional; existência de poucas ou nenhumas pausas para descanso; conflitos e má relação entre colegas e superiores hierárquicos; incapacidade de resolução de problemas pessoais como, por exemplo, dificuldade em equilibrar a vida profissional com a vida familiar.
Há ainda a acrescentar que os custos económicos do “burnout”, no caso das empresas e organizações, são, como exemplo, o absentismo, erros, acidentes de trabalho e redução da produtividade. No caso dos indivíduos, os exemplos são a perda de salário e os gastos adicionais com consultas e tratamentos.
Este artigo parece ser, somente, uma descrição de sintomas e causas da síndrome de “burnout”. Talvez o seja, e, sendo-o, serve, de qualquer modo, o propósito que coloco nos textos que aqui redijo, alertando, trazendo o foco para as várias implicações da saúde mental, ou para a falta dela.