O filme ‘Variações’ está aí nos cinemas e é uma excelente sugestão quanto mais não seja para conhecer um pouco melhor a vida de um ilustre amarense que saiu de Fiscal à procura de um novo mundo já que o mundo onde estava inserido era muito pequeno.
A antestreia foi no relvado do parque das Termas em Caldelas e mobilizou os amarenses e não só, para a sua visualização. Finalmente, o ‘António’ começa a ter reconhecimento na sua terra, depois de anos de um ostracismo incompreensível.
Não é a cara que faz um homem, é a sua essência, o seu talento, aquilo que genuinamente é. E quando andamos preocupados com as caras, com os liftings e os botoxes, esquecemos que os valores não se mascaram, não se iludem. Mais tarde ou mais cedo, o tempo, o melhor amigo do homem, encarrega-se de fazer justiça.
António Variações, como mostra o filme, não sabia de música mas tinha uma curiosidade e um sentido rítmico muito apurado, a cena da caixa de ritmos é o exemplo disso. E é por aqui que quero entrar na vertente educativa.
Há quem lhe chame a cultura da maionese. Todos os anos multiplicam-se as festas pelas escolas movimentando professores e alunos, tudo mascarando de grande brilhantismo até porque há professores que conseguem transformar as crianças em exemplos de brilhantismo.
Tudo fruto do trabalho dos docentes, do empenho e alegria dos alunos e, não menos importante, da participação babada dos papás e das mamãs na assistência. Qual é o problema, afinal?
Todo o esforço e trabalho são feitos com base no mais pimba e moralista que existe. Não consigo perceber como ainda se (des)educam crianças com o mais básico do que existe a nível musical, até porque preparar um espetáculo de qualidade duvidosa requer o mesmo tempo para preparar um outro onde textos e músicas respeitem a decência cultural.
Não estou a criticar os professores mas custa-me entender que gastem o seu empenho e talento em algo que, se calhar, fora do contexto escolar, não lhes mereceriam um segundo da sua atenção.
É a mesma coisa que uma cozinheira de mão cheia preparar o melhor cozido à portuguesa e depois cobri-lo com um molho de maionese, só porque as refeições de fast-food estão na moda e se adaptam ao pretenso saber do cliente.
Cobrir de maionese a cabeça e o coração dos nossos alunos é um crime de lesa-majestade. Foi com isso que o António Variações não quis pactuar. Foi procurar um mundo que o entendesse, onde se pudesse expressar de forma livre. Sem maionese. Apenas de forma genuína.