No número anterior de “O Amarense” procurei e prometi aludir a um tema concernente ao interesse de todos os amarenses, neste mês de Abril. No entanto, como Abril é o mês da Revolução, e, Maio o mês do Dia Internacional do Trabalhador, terei que protelar o importante tema para a publicação de Junho.
Posto isto, alertado que me sinto com o alardeamento do fim da Democracia, ponto de vista tão pródigo a reaccionários e liberais de centro-direita, inicio por citar uma frase deliciosa do sociólogo norte-americano Charles Derber: «A democracia corre o maior risco, já que dinheiro é poder e as fortunas herdadas são poder reforçado com esteróides». No seu mais recente livro, “A Maioria Deserdada”, o autor lança perspectivas pertinentes para o debate, a partir de uma análise que elabora em torno de “O Capital” do economista francês Thomas Piketty. Derber acrescenta que à fórmula, tão actual, da luta das classes de Karl Marx deve adicionar-se o reaparecimento de castas no cerne da própria luta das classes.
A páginas tantas, lê-se: «(…) os indivíduos com riqueza herdada só têm de poupar uma parte dos seus rendimentos sobre o capital para verem esse capital crescer mas rapidamente do que a economia toda. Nestas condições, é quase inevitável que a riqueza herdade se sobreponha, por uma grande margem, à riqueza conseguida com uma vida de trabalho, e a concentração de capital chega a níveis extremamente elevados(…)».
Derber argumenta que «a riqueza herdada já representa (…), pelo menos, valores na ordem dos 70% a 80% da riqueza em toda a Europa», assim como no resto do mundo, sobretudo, nos Estados Unidos. Ora, se à medida que as fortunas crescem, e as heranças se tornam um factor de ainda mais peso – porquanto, quanto maior a fortuna, maior a rentabilidade do capital –, as desigualdades aprofundam-se, cavando-se, cada vez mais, o fosso entre classes, e a resistência das ultra-bacteriológicas castas, impondo-se, assim, um cenário aterrorizador e totalmente medievalista.
Desta forma, a Democracia corre a possibilidade de atravessar um acontecimento futuro e incerto, podendo resvalar para o regaço dos tantos que cobiçam a sua destruição. Porém, este panorama desolador não é inevitável. A força da Democracia respalda-se na força da intervenção do seu Povo. O Povo interveniente, concertado, atento, reforça, determinantemente, as auto-defesas da Democracia. Aliás, o Povo é o único “sistema imunitário” da própria Democracia.
Portanto, os valores do 25 de Abril, nestes dias, mais do que nunca, «são valores revolucionários que significam a ruptura com o passado fascista – bem como com um presente eivado de laivos e protuberâncias fascizantes –, e, exprimem um conjunto de desejos e de aspirações populares», como nos ensina o escritor Manuel Gusmão, e que devem prosperar.
O 25 de Abril, acontecimento maior da história de Portugal no século XX, 45 anos após o seu advento, deve prevalecer bem vivo dentro de todos nós, para que o possamos defender, literalmente, com unhas e dentes.
25 de Abril sempre, agora, mais do que nunca!