Opinião de Mário Paula
É factual que a situação pandémica em Portugal avança negativamente de dia para dia.
Recentemente, fomos bombardeados, pelas redes sociais e imprensa, com imagens do grande prémio de Formula 1 no Algarve e das já mundialmente aclamadas ondas da Nazaré.
Ao mesmo tempo, faziam-se ouvir vozes críticas à controversa proibição de circulação entre concelhos de 30 de outubro a 3 de novembro, limitando liberdades individuais constitucionalmente consagradas. O que terão estes três acontecimentos em comum? A incoerência, pois está claro.
As imagens de aglomerados de multidões, sem o devido distanciamento, no Grande Prémio e no aclamado Canhão da Nazaré, causam enorme dano na opinião pública. Podem, consequentemente, levar a comportamentos de desvalorização da situação pandémica pelos menos resignados, sobretudo dada essa efetiva incoerência das mensagens transmitidas pelas autoridades competentes.
É sabido que, em condições normais, o Autódromo Internacional do Algarve poderia ter cerca de noventa mil espectadores. Dadas as medidas restritivas da atualidade, o limite seria de “APENAS” vinte e sete mil e quinhentas pessoas. Em suma, este evento foi autorizado com a lotação de quase trinta mil pessoas, para satisfação de interesses económicos e financeiros adjacentes ao evento de dimensão mundial. Seria algo perfeitamente normal e compreensível, se milhares de avós não estivessem privados de verem os seus netos e entes queridos, se os profissionais de saúde e demais profissionais da “linha da frente” não estivessem exaustos na luta contra este inimigo invisível, se o futebol de formação não estivesse arredado dos relvados desde Fevereiro, se os profissionais de espetáculos e divertimentos noturnos não estivessem abandonados e arredados de exercer a sua profissão, se um estádio de futebol com capacidade para 65 mil pessoas não estivesse proibido de receber um único adepto, se de 30 de Outubro a 3 de Novembro não nos tivesse sido “recomendada” a permanência na nossa residência e posteriormente o confinamento parcial de 121 concelhos, incluindo Amares. Seriam muitos outros “Se” …
Quem poderá julgar as multidões que espontaneamente se aglomeraram no canhão da Nazaré, não estaria presente a ideia de: “Se ainda no fim de semana anterior estavam vinte e sete mil na Formula 1 em Portimão…”
Sem querer defender o “certo e o “errado”, entre os quais atualmente se traça uma linha muito ténue, a única coisa que me cruza o pensamento é somente: incoerência.