A pandemia Covid-19 dura há já um ano e é inevitável refletir sobre as mudanças que nos impôs e em que medida algumas delas vieram para ficar.
Está em curso a tão esperada vacinação, mas não abriu ainda o sinal verde que desejámos para voltar à “normalidade”. Com efeito, a vacinação devolve-nos alguma esperança, no entanto é um processo que pela sua natureza e complexidade acabará por se prolongar no tempo.
Já aqui neste espaço, em artigo prévio, tive oportunidade de apelar a que os meus leitores aderissem à vacinação para a Covid-19 com confiança. Hoje renovo esse apelo e reforço-o, apelando também à compreensão de que não podemos ser todos vacinados em simultâneo e é imperativo que observemos as orientações da Direção-Geral de Saúde relativamente aos grupos prioritários e ao momento em que cada um de nós, atenta a sua especificidade, será chamado para receber a vacina.
No último ano, as nossas vidas mudaram substancialmente. Estamos todos desertos por abraçar os nossos, conviver com os nossos, ir aos bares, cafés e restaurantes, assistir a concertos e peças de teatro, levar as crianças ao circo. Cortar o cabelo – algo tão rotineiro e que tomávamos por adquirido, é hoje uma necessidade urgente, pelo menos para quem continua a exercer a sua profissão em pleno e a lidar com colegas, clientes e fornecedores, vendo-se a braços com uma farta cabeleira que nos tira se não toda, alguma credibilidade. Brinco, de facto, mas não deixa de ser mais um fator, entre tantos, em que nos vemos limitados nas nossas ações e escolhas. E a nossa autoimagem não é uma questão de somenos. É sabido como o descuido com a mesma está muitas vezes associado a problemas do foro depressivo, seja enquanto sintoma, seja como fator precipitante.
Fala-se já da “fadiga da pandemia”, fenómeno que se considera ter levado à violência dos números da segunda vaga de infeções por Covid-19 que se registou no nosso país em janeiro deste ano e obrigou a um novo confinamento e ao regresso de muitas das restrições do primeiro estado de emergência decretado em março de 2020. A “fadiga da pandemia” refere-se a um sentimento de sobrecarga, por nos mantermos constantemente vigilantes, e de cansaço, por obedecermos a restrições e alterações na nossa vida. Trata-se do momento perigoso em que o medo (que dominou a nossa reação inicial ao vírus), é substituído pela indiferença (onde a nossa percepção de risco diminui, levando-nos a relaxar os cuidados que a situação ainda exige).
Muitas têm sido as vozes de protesto relativamente aos cuidados de saúde não-covid. Ouvimos dizer que outros doentes ficaram esquecidos, que há mais doença para além da Covid-19 e que o adiamento e cancelamento de consultas, cirurgias e outros atos médicos e de diagnóstico deixam muitos doentes não-covid à sua sorte. A questão é que qualquer pandemia, enquanto momento de crise e catástrofe, assume inevitável caráter prioritário. E os equipamentos e profissionais de saúde não se multiplicam, não ao ritmo que este desafio hercúleo exigiria.
É por isso essencial que cada um de nós faça o “trabalho de casa”. Não apenas no que à erradicação do contágio por Covid-19 respeita, observando sempre as orientações específicas a este respeito – distanciamento, etiqueta respiratória, higiene das mãos, uso de máscara – mas adotando comportamentos de saúde no geral. Alimentação saudável, atividade física, descanso, hidratação, abstinência face a consumos nocivos, são conselhos que desde sempre ouvimos por parte do nosso médico e enfermeiro de família, mas nem sempre observamos. A saúde está muito mais nas nossas mãos do que por vezes pensamos. Façamos, então, a nossa parte!