É com uma certa consternação que volto ao tema da pandemia nesta coluna de opinião, mas enquanto enfermeiro não posso ignorar a responsabilidade especial que me cabe na promoção de comportamentos de saúde informados e responsáveis por parte dos meus estimados leitores.
Já ninguém ignora que estamos em plena segunda vaga de infeções por COVID-19 e que os números recentes ultrapassam já em larga medida os registados nos primeiros meses do ano. Temos mais novas infeções por dia, mais doentes em cuidados intensivos e mais mortes a lamentar.
O confinamento e as demais medidas implementadas no contexto do estado de emergência decretado em março, permitiram o tão desejado achatamento da curva, ou seja, que a evolução do número de infeções e a necessidade de camas hospitalares para o respetivo tratamento não ultrapassasse o número de camas disponíveis, o que redundaria num colapso do sistema nacional de saúde e na consequente perda de vidas. A resposta dos portugueses aos apelos lançados nessa fase foi extraordinária e os efeitos foram bastante positivos e encorajadores, ao ponto de termos sido dados como exemplo noutros países da Europa.
Sucede, porém, que o confinamento é uma dinâmica antinatural para os seres humanos, no geral, e para o povo português, em particular. Somos um povo de afetos, de partilha e de confraternização. Por tradição, juntamo-nos. Juntamo-nos para celebrar. E juntamo-nos para atenuar momentos de dor. E como “a sede de uma espera só se estanca na torrente”, fomos viscerais e gregários no nosso desconfinamento. Acreditámos (percebe-se hoje que cedo demais) que tudo tinha ficado bem, tal como tantas vezes e com tanta força tínhamos desejado. Ao mesmo tempo fomos descobrindo um pouco mais acerca do vírus e agarrámo-nos à parte melhor dessas evidências, por exemplo, à de que há uma grande franja de assintomáticos, pessoas que, sendo portadoras do vírus, pouco ou nada sofrem com ele. Fomos otimistas pensando que a sorte nos incluiria nessa categoria. Voltámos por isso a juntar-nos para partilhar alegrias e dores. E o resultado disso é o aumento exponencial de casos identificados de COVID que temos testemunhado.
No passado 14 de outubro regredimos ao estado de calamidade e a 31 de outubro novas medidas restritivas foram decretadas pelo Conselho de Ministros, estando em discussão a hipótese de um novo confinamento. Para que tal não aconteça, ou para que um novo estado de emergência seja o menos restritivo possível, o que nos é pedido, no imediato, é o cumprimento escrupuloso destas cinco regras simples:
- distanciamento físico de pelo menos 2 metros entre pessoas;
- uso obrigatório de máscara em espaços fechados e ao ar livre, sempre que não esteja assegurado o referido distanciamento;
- etiqueta respiratória, que passa por tossir ou espirrar para dentro do cotovelo, um cuidado que deve ter mesmo com máscara;
- lavagem e desinfeção frequente das mãos;
- instalação e utilização, nos telemóveis que o permitam, da aplicação StayAway COVID.
Algumas vozes críticas têm surgido face a estas medidas, nomeadamente considerando-as inconstitucionais e lesivas da liberdade individual, porém convém não esquecer que as medidas preconizadas surgem num contexto extremamente excecional, onde outros valores e direitos fundamentais, como o direito à saúde e à vida, estão igualmente ameaçados. É certo que durante mais algum tempo será necessário adiar as confraternizações e reinventar as relações familiares e de amizade, em prol da garantia de que estaremos cá todos, com os nossos, quando tudo isto passar.
Tal como preconiza a Direção-Geral de Saúde, devemos todos ser agentes de saúde pública, lembrando sempre que “Cuidar de Si é cuidar de Todos”.