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E se a comida for para o lixo, vão-se indignar?

Uma reportagem recente publicada no Jornal I avaliava a medida governamental que exige a retirada, das máquinas de vending existentes em espaços hospitalares, de comida não saudável.

A reportagem dava conta do sucesso da medida junto de doentes, profissionais de saúde e familiares. A responsável pela Ordem dos Nutricionistas ouvida neste âmbito saudou a medida e deixou para reflexão um dado: estender o seu alcance às escolas, universidades e outras entidades ligadas à saúde e educação.

No Agrupamento de Escolas de Amares esta prática já é uma realidade. As chamadas máquinas de venda de ‘comida rápida’ têm ao dispor dos alunos um conjunto de ofertas saudáveis que podem ser óptimos complementos alimentares nos intervalos escolares.

No entanto, nem tudo são rosas nesta matéria e ainda há um longo caminho a percorrer.

Tenho almoçado com regularidades nas cantinas escolares do Agrupamento. Os esforços de melhoria que vêm sendo feitos são evidentes e posso garantir a qualidade da comida que é fornecida aos alunos.

O problema está nos apelos constantes, muitos deles à distância de um clique, para a ingestão de comida dita não saudável. Um apelo que depois se alastra a muitas casas, por falta de tempo, disponibilidade ou vontade de quem cozinha.

Daqui resulta uma esquizofrenia que os alunos combatem da maneira mais fácil: entre a comida saudável promovida na escola e o apelo ao sabor, cheiro e visual da ‘fast food’ , a decisão é fácil de perceber qual é.

É verdade que a quantidade de comida servida nas cantinas escolares pode não estar ajustada à idade ou não corresponder às necessidades nutricionais de crianças e jovens como aponta um estudo publicado pelo Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge (INSA).

Mas este é um problema menor perante o desafio que está pela frente. A redução de sal é uma realidade, a melhoria dos teores energéticos e de hidratos de carbono tem vindo a crescer. Porém, e pelos vistos, é preciso fazer mais ou melhor.

Esta conversa toda vem a propósito de uma realidade que tem vindo a ser constante nas últimas semanas nas cantinas de amares e que muito me tem incomodado.

Há alunos que compram senhas e depois, simplesmente, não almoçam e não estou a falar de problemas de última hora ou doença. Estou a falar de alunos que vão comer a outros locais, nada contra, mas que adquiriram uma senha para almoçar. E houve um dia, por exemplo, que foram mais de 20 a não aparecerem.

Ora como as refeições escolares são confeccionadas em função das senhas vendidas, o que se faz à comida que sobra? É que andamos todos preocupados com a falta de alimentos em vários países e depois pactuamos com práticas lamentáveis e condenáveis de alunos que simplesmente não vão comer à cantina, tendo senha, porque não querem.

Julgo ser urgente e necessário que a comunidade educativa se junte e reflicta no caminho que se pode seguir. Não basta participar em campanhas de recolha de alimentos, pensar nos meninos e meninas de outros países que não têm nada para comer e depois achar bem não comparecer na cantina com uma senha comprada. Claro que já estou a ver a indignação destes mesmos com o destino que é dado à comida que sobra.

Hipócritas!

OPINIÃO - -
O dedo na ferida. E não é saudosismo

Tenho ouvido, nos últimos tempos, muitas pessoas a compararem o ensino “do seu tempo” com a escola actual. Curiosamente, as comparações são feitas por pais mais preocupados com a vida escolar dos seus filhos do que os seus pais tiveram no “tempo deles”.

O que escrevo a seguir não é a apologia do saudosismo, apenas factual.

A verdade é que quem viveu com a realidade da educação portuguesa até meados dos anos 80 e acompanha a escola de hoje, nota uma mudança radical e, em alguns casos, catastrófica, sobretudo, no comportamento dentro das salas de aulas.

Até aos 80’s, atrevo-me a dizer que a escola formava e incutia valores criando verdadeiros profissionais fosse qual fosse a profissão escolhida. O respeito para com os próprios colegas e principalmente com os professores eram procedimentos considerados essenciais dentro da escola pública.

O poder de concentração e principalmente a importância que se dava aos conteúdos expostos pelos professores, era algo tido como necessário para o seu futuro enquanto ‘animal social’.

Os pais, mesmo com pouca formação ou com um nível cultural mais baixo, incentivavam os seus filhos para que aproveitassem essa oportunidade acumulando conhecimentos e aproveitando as oportunidades profissionais que melhor remuneravam naquela altura.

Ora o trabalho dos docentes ficava mais facilitado e principalmente mais produtivo.

Hoje, o paradigma é totalmente inverso a começar pelos valores. A falta de interesse dos alunos pelos conteúdos na escola pública é cada vez mais crescente. Alunos desrespeitam professores, praticam constantemente bullying contra seus colegas, utilizam de forma desrespeitosa os telemóveis, fazem a apologia e utilizam drogas dentro da escola.

O maior desafio passa, na minha opinião, por ensinar algo àqueles que não dão a menor importância aos conteúdos trabalhados ou expostos pelo professor. E já não falo de um sistema de ensino que aprova, de forma arbitrária, alunos irresponsáveis, impreparados e desinteressados.

Fora do recinto escolar, o maior desafio está na casa de cada um, nas famílias, portanto. O incentivo constante para a importância da escola, a mudança dos hábitos que prejudicam a concentração e o interesse dos filhos são premissas base que as famílias, independentemente do seu estrato social, condição social e estado civil, deveriam incutir a partir de casa.

A mudança de comportamentos sociais não se faz só na e com a escola. Faz-se com as famílias, cada um ocupando o seu lugar e o seu espaço. Sem interferências e em absoluta cooperação. Uns e outros podem aprender e ensinar. Haja vontade, humildade e bom senso para perceber o papel de cada um.

Uma palavra final para os sucessos recentes do Agrupamento de Escolas de Amares, nomeadamente, com a feira do livro e o primeiro lugar num concurso sobre poupança.

OPINIÃO - -
Caldeira e a terapeuta da fala não precisam de fotografias para serem resolvidos

“Sendo verdade que muitas vezes as escolas nos querem nas reuniões, nas festas, eventos, seminários, já não é tão verdade que gostem de nos ver discutir as questões de organização e pedagógicas. Também sabemos discutir isso. Deveria ser quase um orgulho e uma honra uma escola ter uma associação de pais, porque significaria que, efectivamente, a comunidade toda era interveniente e acompanhava a vida escolar. Esse é o caminho, mas as barreiras são muitas”.

Recordo estas palavras do Presidente da Confederação Nacional das Associação de Pais para reflectir um pouco sobre a realidade da Associação a que tenho a honra de presidir.

Sujeita a críticas, umas justas outras bastante injustas, a Associação de Pais do Agrupamento de Escolas de Amares nunca deixou de intervir, junto da comunidade escolar, das mais variadas formas.

É inegável que tem sido constante a sua presença nos momentos marcantes da vida do agrupamento durante os diferentes anos lectivos. Também tem demonstrado uma determinação efectiva em dar o seu contributo para a melhoria do recinto escolar.

E é neste ponto que me quero centrar: uma Associação de Pais deve ter sempre uma dose de bom-senso na divulgação pública do trabalho que faz. Intervir quando necessário, trabalhar na sombra permanentemente. Ora como tudo hoje é medido por cliques, visibilidade pública e não sei que mais, os senhores do sofá ficam sempre mais à vontade para dizerem tudo aquilo que quiserem.

Dois ou três exemplos daquilo que pretendo dizer: a Associação de Pais tomou uma posição pública sobre as obras na EB 2/3 realçando a sua concretização ansiada por todos há muitos anos. O que interessou, para fora, foi aquilo que o Presidente não disse mas devia ter dito: que faltavam ainda um conjunto de infra-estruturas, que as obras estavam incompletas, etc. etc.

O problema é que muitas vezes fala-se do que não se sabe porque no sofá é sempre mais confortável. Como é evidente, desde o início, a Associação de Pais esteve presente nas mais importantes reuniões sobre as obras, acompanhou o seu desenvolvimento, sabe porque é que o projeto inicial foi alterado e com o consenso de quem. Muitas vezes, estes tipos de coisas não são realmente as mais importantes.

Importante é os nossos filhos terem sempre melhores condições para estudarem e estarem na escola com conforto, alegria e vontade de aprender. E isso, a nova EB 2/3 proporciona.

Se há terapeuta na fala no Agrupamento, e o que tantas vozes disseram pela sua ausência, deve-se à Associação de Pais que assumiu este desiderato, sem muitas parangonas ou panfletos. Interessa que haja o serviço.

A caldeira da escola Secundária teve problemas que prometiam arrastar-se por muito tempo com a desculpa da falta de capacidade financeira das entidades oficiais. Vieram logo umas vozes a público ameaçar com greves e até com uma nova Associação. Mas nunca ninguém se preocupou em saber o que estava a ser feito.

Nos bastidores porque é assim que muitas coisas se resolvem. E resolveram-se com muitas diligências da Associação de Pais e da direcção do Agrupamento de Escolas e em tempo recorde.

As tais vozes amocharam porque o interesse delas nunca foram os seus filhos ou a comunidade escolar. Foi, é e será sempre a fotografia ou o marcar de posição para outros combates dos quais a Associação de Pais nem tem a ver nem nunca terá.

OPINIÃO - -
Desafios da educação e das escolas

A ex-ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, a propósito dos desafios lançados à escola e à educação do século XXI identificou os seguintes: “desafios em torno das competências-chave para todos; da aprendizagem ao longo da vida; do contributo para o crescimento económico sustentável; da capacidade de reacção aos múltiplos desafios sociais; da escola inclusiva; da educação para a cidadania; do papel dos professores; e, por fim, das questões organizacionais e de liderança das escolas”.

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OPINIÃO - -
2019: o ano quente da educação?

Autor: Cristóvão Gomes

O ano de 2019 pode, em termos de educação, ficar marcado pelo início de um novo paradigma, e o futuro dirá se positivo ou negativo, mas, também, pela manutenção de um conjunto de questões que podem assombrar o ano. A luta dos professores pela reposição dos cortes salariais, o reduzido de investimento em infra-estruturas e a malfadada carga horária versus programa curricular prometem não largar as primeiras páginas dos jornais.

No entanto, há alguns desafios que o novo ano irá trazer e que, bem aproveitados, podem ser o selo de uma nova carta educacional. O Orçamento de Estado de 2019 apresenta um aumento da verba dedicada ao programa orçamental “Ensino Básico e Secundário e Administração Escolar”, que basicamente engloba a despesa prevista com o funcionamento do sector da educação não-superior. Esse aumento é de 248 milhões de euros se se comparar com o OE2018 inicial (aquele que foi aprovado em Novembro de 2017), e é de 82 milhões de euros se se comparar com o OE2018 (execução prevista para 2018).

O aumento é elevado ou é baixo? Depende sempre da perspectiva. Mas, olhando objectivamente aos dados de anos anteriores, pode dizer-se que é mais elevado do que aquilo que tem sido praticado nos últimos anos – ou seja, é um aumento orçamental como ainda não se tinha visto entre orçamentos desta legislatura. Por exemplo, de 2017 para 2018, o objectivo do governo expresso no OE2018 foi o de reduzir ligeiramente o orçamento da educação (que, na realidade, não diminuiu mas estagnou). Portanto, o aumento actual no OE2019 é relevante e o mais acentuado desde a transição de governo.

Mas na prática poderá não ser bem assim, como deixam as entrelinhas do Orçamento ver. Esperemos para ver, em concreto, no que se traduz este aumento das verbas, esperando que não seja em medidas estapafúrdias com a dos livros gratuitos para todos, que já agora, irá custar aos cofres do Estado cerca de 100 milhões de euros.

Outro desafio que promete aquecer o ano escolar é a transferência de competências para as autarquias. Que verbas e património irão as autarquias receber são o busílis da questão e da previsível troca acesa de argumentos. O Governo prevê comunicar, durante este mês, às autarquias a sua proposta tendo estas, depois, até final de Abril decidir se assumem as novas competências ainda durante este ano lectivo.

A Educação é a área de maior peso no processo de descentralização – em recursos humanos, em património e em verbas. Segundo um relatório elaborado pela Secretaria de Estado das Autarquias Locais, este sector envolve a transferência para o Poder Local de 797 milhões de euros, 43 262 funcionários não docentes e 996 escolas, num total de 3552 edifícios. O documento em causa já especificava montantes a transferir por autarquia, mas muitos municípios protestaram pelo que dizem ser uma manifesta insuficiência de verbas.

Nas negociações que decorreram entretanto entre o governo e a ANMP ficou acordado que, até ao final de Janeiro de 2019, é remetido para as câmaras municipais o projecto de mapa contendo os  «montantes do fundo de financiamento a transferir em 2019, bem como a listagem de todo o património a transferir», de acordo com um documento da ANMP. As autarquias terão então um prazo de 30 dias para se pronunciarem, sendo os montantes do fundo de financiamento da descentralização publicados em despacho até ao final de Março. Os municípios terão, então, um mês para tomar uma decisão.

Resumindo, os seis primeiros meses do ano prometem não tirar a educação das bocas do povo e, com certeza, iremos ouvir muitos argumentos, muitos especialistas e sobretudo, muitos que não querendo perceber o que está em causa irão criar ruído. Aguardemos.

Alunos, para que foi a greve?

A educação é um dos sectores mais reivindicativos e, por consequência, com mais paralisações. Os professores andam numa roda-viva, e bem, para fazerem o Governo cumprir a promessa de restabelecimentos dos cortes salariais e congelamentos da carreira. Quem não pode, não promete, e os políticos, para quem tudo vale, só podem sofrer as consequências pelas suas diatribes verbais.

Que fique bem claro, parece-me de total justiça a luta dos professores e já a recente “manifestação” (assim mesmo entre aspas) dos alunos não faz qualquer sentido. Uma publicação no Facebook, sem cara e sem assinatura, difundida, tal como as fake news, de forma massiva, com motivos, no mínimo, ridículos não abona em nada os alunos de hoje. Não haverá situações graves nas escolas que motivem a real preocupação dos estudantes? Não estarão hoje os alunos demasiado dependentes das novas tecnologias, acéfalos e sem qualquer linha de pensamento? Para se ter ideias, motivações é preciso pensar, estudar, ler e perceber. E isso não é um ecrã de uma qualquer tecnologia que proporciona.

Os alunos de hoje são os votantes de amanhã. Sabem eles quem são os Bolsonaro’s, Trump’s ou um qualquer ditador coreano e como chegaram ao poder? Ou vão continuar entretidos com um alegado excesso de carga horária? A história vem demonstrando que comunidades educativas sem pensamento livre, democrático e reflexivo acabam por transformar as sociedades em “carneirismos” e à mercê um qualquer putativo ditador.

Não resta dúvida de que a educação interfere directamente na formação humana e na construção do sujeito e, por isso, nada mais justo do que profissionais valorizados e recursos financeiros suficientes para investimento em projectos escolares. Ora, se os professores e (alguns) pais já perceberam que há um desinvestimento na educação (e não falo em infra-estruturas), os alunos continuam entretidos com a carga horária ou com “cartas” anónimas saídas de uma qualquer página anónima do Facebook.

Para que não restem dúvidas, a escola pública que ‘queremos’ deve ser construída dentro da escola que ‘temos’, além disso, as políticas educacionais governamentais devem orientar propostas de uma educação realmente democrática e fundamentalmente colectivas. Na missão da Escola, todas as pessoas são necessárias e ninguém pode ou deve delegar as suas tarefas e responsabilidades.

Uma acção educativa de resistência só se configura como possível na presença de um trabalho cultural, social, ético e político, que requer a participação da família e dos alunos. Mas os professores têm aqui um papel crucial: é importante lembrar que uma das funções das instituições educacionais é colaborar para uma sociedade mais democrática e igualitária e, assim, possibilitar o acesso à informação a todos.