Talvez não compreendamos aquele aumento

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Estive, há dias, numa maravilhosa aldeia da região demarcada, Património Mundial da Humanidade, em pleno Alto Douro Vinhateiro. Nesta pequena aldeia de Barcos, freguesia da vila de Tabuaço, encontrei o nosso Povo humilde e trabalhador e sofredor com as consequências da interiorização e do despovoamento, ainda que não, neste caso, da desertificação fruto dos trabalhos executados nas extensas quintas e vinhedos que preenchem ambas as margens do Douro. Tive, por mera coincidência, a oportunidade de manter conversa com o presidente da Junta de Freguesia de Barcos, proprietário de um pequeno café, implementado à entrada da inesquecível localidade, local privilegiado para se observar as origens, natureza e personalização da gente tão característica deste Portugal rural. Na curta conversa, observada numa manhã de domingo, o autarca aludiu às extremas dificuldades com que aquelas terras cozinham o respectivo quotidiano, por via das mais profundas iniquidades sociais, profissionais, territoriais e administrativas. Porém, não obstante a realidade vertente, e os limitados instrumentos que aquele possui à sua disposição, pude observar os asseados arruamentos, perfeitamente empreendidos – cujas especificidades não esqueceram as dificuldades de quem envelheceu e/ou daqueles que, devido a um qualquer sortilégio, viram a sua mobilidade inteiramente reduzida –, o sistema de saneamento totalmente instalado e à disposição da população, as zonas destinadas ao escoamento de águas, bem como o empedrado das ruas, pormenores que diminuem os riscos meteorológicos, características que envergonhariam muitos dos responsáveis de autarquias, vilas e cidades, confortavelmente instaladas no litoral português.

Lembrei, a propósito, a entrevista concedida pelo vereador do Ambiente do executivo da edilidade amarense ao último número deste jornal. A conversa salientou o aumento da tarifa do lixo, respeitante aos consumidores domésticos. Vários pontos foram abordados: o problema levantado pela Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos, regulador competente; o alargamento da rede básica de saneamento; a sensibilização vertical do consumo e utilização da água, tentando que todos evitem o respectivo desperdício; a implementação da factura electrónica; as acções de muitos amarenses, no concernente à distribuição dos lixos; e, de extrema relevância, a entrega dos serviços de recolha dos resíduos a uma «empresa que opera no sector», no âmbito de “outsourcing”, terreno tão “disruptivo” – como agora se utiliza dizer –, eufemismo conjectural da privatização dos referidos serviços. Subsequentemente, após a implementação das opções do Executivo amarense que, não lembro nesta altura, talvez não estivessem inseridas nos cadernos de encargos prometidos à época de eleições, tenho para mim que, com base na experiência de outros casos e do que pudemos vivenciar em diferentes latitudes autárquicas, esta desresponsabilização dos edis desta terra, por via da privatização dos respectivos serviços de recolha dos resíduos sólidos, irá envolver, em diferentes gradações, o aumento do preço praticado nas facturas da água, por comparação com que até agora se verificava. Termino, prometendo voltar às matizes destas negociatas, não olvidando os mais imediatamente visados em todo este processo, designadamente os trabalhadores do sector. Exmo. Senhor vereador do Ambiente, infelizmente, as suas palavras não me convenceram!