Artigo de Hélder Neto
Psicólogo
Quando começo a escrever estes artigos, às vezes, dou por mim a pensar que o que escrevo mais parece informação do que opinião, depois chego à conclusão de que, na minha opinião, a informação é importante, então continuo a escrever com o dilema já resolvido. Neste artigo, pretendo abordar as emoções. Faço-o porque são o barro com que moldo o meu trabalho diário, e faço-o porque me parece essencial esclarecer, e desconstruir, algumas ideias pré-concebidas em relação às emoções e ao relacionamento com elas.
Uma das formulações erradas, em relação à forma como nos relacionamos com as emoções, e que causam muita insatisfação, e até psicopatologias, versa sobre a existência de emoções boas e más. Se procedermos a uma ligeira classificação, concluiremos que todas as emoções são “boas”, na medida em que cumprem um propósito. Embora umas possam ser mais agradáveis do que outras, todas são, sobretudo, importantes. Devemos encarar as emoções como indicadores biológicos, como mensageiros que tentam enviar-nos informações sobre o ambiente, configurando o resultado da evolução de muitos milhares de anos, sendo a sua principal função a da sobrevivência.
A teoria diverge, conquanto que, regra geral, existam seis emoções que são consideradas universais. São elas: a surpresa, o medo, a tristeza, a alegria, a raiva e o nojo. Farei uma pequena descrição da função de cada uma.
A surpresa pode ser definida como uma reação causada por algo imprevisto, inédito ou estranho. A sensação que a acompanha é a de uma mente vazia, em branco. A surpresa é frequentemente seguida por outra emoção que vai depender da qualidade do estímulo imprevisto, podendo ser alegria, medo ou raiva.
O medo ativa uma resposta de luta ou fuga, aumentando o estado de alerta perante uma possível ameaça.
A tristeza reduz significativamente o nível de energia, e de prazer, nas atividades, de forma a promover um ajustamento a uma grande perda, convocando o suporte do grupo, ou criando introspeção, com vista à perceção das consequências das nossas ações.
A alegria diminui os efeitos do stress e promove a criatividade, a disposição e o entusiasmo para a execução de qualquer tarefa que possa surgir. É a alegria que nos recompensa e incentiva a continuar a fazer aquilo que se está a fazer bem feito.
A raiva acelera os batimentos cardíacos, provocando o disparo da adrenalina, aumentando a energia e a nossa força para agirmos. É devido à raiva que conseguimos, por exemplo, defender os nossos direitos e impor limites quando alguém invade o nosso espaço pessoal e nos coloca em risco.
O nojo tem como função ajudar-nos a evitar ingerirmos qualquer tipo de substância que possa provocar uma intoxicação. Provoca náuseas e mal-estar gastrointestinal, de forma a expulsar uma comida estragada, evitando envenenamentos.
Concluindo, não existem emoções boas ou más. Todas são importantes para a nossa sobrevivência como espécie. Assim, prometo voltar a este tema, num outro artigo (muito provavelmente, o próximo), porque considero que é uma temática importante, extensa e com muito impacto na saúde mental.