Por Pedro Costa
Em 2017, avancei para uma candidatura à Câmara Municipal de Amares, em nome do Partido Socialista, porque ao desafio que me foi lançado, mais uma vez, não era capaz de dizer “não” à minha terra de sempre.
Por Pedro Costa
Em 2017, avancei para uma candidatura à Câmara Municipal de Amares, em nome do Partido Socialista, porque ao desafio que me foi lançado, mais uma vez, não era capaz de dizer “não” à minha terra de sempre.
As Redes Sociais, enquanto mecanismo político de apoio às populações foram criadas e implementadas entre no final dos anos 90 e o princípio do novo milénio, por Governos de matriz socialista.
No conceito, trata-se de um programa que incentiva agentes que atuam na área social a juntarem esforços, desde o setor público – Segurança Social, Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, a saúde, as escolas, etc. – ao privado – com IPSS, entre outras. O desafio é trabalharem em rede, para trabalhar situações de pobreza e exclusão e promover o desenvolvimento social local através de um intenso trabalho em parceria. O conceito em si é muito pertinente, pois já vão longe os tempos em que as instituições se afirmavam e produziam resultados apenas por si.
Amares teve a felicidade de contar com excelentes executantes – técnicos e políticos – na implementação da sua Rede Social, tornando-a um modelo para a região. No caso, as dinâmicas de parceria geradas criaram melhores condições de trabalho para todos os intervenientes no território Amarense.
O custo das operações saiu beneficiado deste trabalho de parceria. As respostas beneficiaram dos melhores profissionais e as especialidades técnicas tornaram-se mais ajustadas dentro das organizações. As novas problemáticas sociais, contaram com a Rede como uma “teia” de intervenção social, com muito mais trabalho no terreno, apoiado por alguns agentes locais, nomeadamente as Juntas de Freguesia. Por outro lado, as Redes Sociais permitiram uma muito melhor e mais rápida capacidade de resposta e intervenção.
O problema é que muitas Redes Sociais se “municipalizaram”, tornando-se quase meros serviços das Câmaras Municipais, prescritoras de documentos e pareceres, perdendo-se o pensamento crítico, a discussão sobre a evolução das problemáticas, a apresentação de novas dificuldades, a avaliação dos recursos e equipamentos disponíveis… basicamente, perdeu-se todo o trabalho de Rede!
Outro grande problema desta tendência é que muitas Câmaras Municipais gerem as Redes Sociais como se fossem “suas”, instrumentalizam-nas, politizam-nas, quando o conceito de rede deve colocar todos os que a integram em pé de igualdade, num plano de discussão estritamente social, em função de um único interesse: os cidadãos.
A Rede Social de Amares foi perdendo esta orientação coletiva, que fez com que os parceiros, por já não verem o seu tempo rentabilizado nestes fóruns, se fossem afastando. A Rede Social de Amares e os seus núcleos de intervenção já pouco reúnem, não cumprem o seu calendário de reuniões e quando o fazem é porque surge algum pedido particular a precisar de um parecer.
Ou seja, a Rede Social em Amares é hoje uma organização meramente reativa, que não se encontra, não planeia, não previne, o que faz com a política de equipamentos sociais seja uma “anarquia” e a gestão dos problemas sociais seja feita no improviso, ao telefone, ou às portas dos gabinetes.
Hoje a colaboração e cooperação entre organizações faz-se por brio das instituições que querem envolver-se assim e não por organização. A rentabilização de recursos, no sentido de todos canalizarem os seus esforços no local e no tempo certo é fundamental, mas só acontece amiúde por iniciativa das instituições que têm essa visão.
Uma Rede Social só estará viva, eficiente e assertiva na sua função, se for capaz de manter todos os parceiros motivados dentro do seu “ecossistema”.
Subalternizados e usados em papéis convenientes vai sempre afasta-los e prejudicar a força viva do trabalho em rede.
Os tempos que vivemos transformaram tudo, inclusive o jeito como nos apropriamos do mundo que nos rodeia. A provar isso mesmo, a forma surpreendemente positiva como os Amarenses têm reagido a modos diferentes de atuar em sociedade.
Por exemplo, a tradição da Páscoa ficou fortemente afetada com a pandemia que o mundo está a viver. Há dias um amigo de fora do concelho perguntava se íamos ter a famosa travessia do compasso na freguesia de Fiscal. Infelizmente não aconteceu, contudo, no Largo D. Gualdim Pais uma lindíssima exposição de cruzes produzidas por seniores do concelho despertou de forma diferente o espírito da Páscoa em todos nós.
Aliás, Amares também já tinha reagido tão bem no Natal passado a uma iniciativa diferente promovida pelo “Movimento Eu compro em Amares”. Simplesmente, este movimento atreveu pensar de forma simples, altruísta e fora dos padrões políticos e sociológicos vigentes. A adesão aconteceu em massa!
Mas então, o que está a acontecer?
Não sendo sociólogo, mas acreditando que conheço minimamente este mundo que me viu crescer, creio que as pessoas estão disponíveis para mudanças. Creio mesmo que as pessoas já só acreditam nas coisas, se elas representarem mudança.
O povo dá sinais de resiliência. Os latinos são gente de improviso, de adaptação fácil às adversidades, com tudo o que isso representa e nunca a velha máxima “quem não tem cão caça com gato” esteve tão impregnada nos dias das nossas sociedades.
Se bem usada, esta é uma lição atualíssima e importantíssima, mas que a história já nos foi pincelando com pistas. Nos Descobrimentos provamos ser um povo capaz do inacreditável – enquanto o Mundo não o pensava possível – de igual forma que fomos recentemente a França conquistar um Europeu, na casa daqueles que outrora nos acolheram como “empregados”! E, sim, também os nossos valorosos emigrantes nos provam a mesma capacidade de acreditar na mudança, desde os tempos em que alguns, entre balas saltaram rios e montanhas, encurralados entre a PIDE e a Espanha Franquista.
Voltando à lição, essa mesmo que nos dias de hoje é fundamental aprender. É essencial fazer diferente, já que no “normal” ninguém acredita, pois foi estragado e ensopado em mentiras e enganos.
Quem não ousar não sobrevive a esta tormenta. Aqueles que não derem respostas sérias estão condenados.
Os responsáveis políticos têm uma ultima oportunidade, ou então… levarão para sempre consigo o rótulo dos imprestáveis. Daqueles que no fim da linha do poder ficarão isolados e sem os “filhos de ocasião” que os abandonarão quando já para nada lhes servirem.
Recentemente, o Presidente da Câmara de Amares anunciou na comunicação social que ia comprar o património imobiliário das Termas de Caldelas, por 1,1 milhões de euros. Na verdade, este é mais um exemplo em que se comprova que o carro anda à frente dos bois, no que toca à gestão municipal dos últimos 8 anos.
Se bem se recorda, tomei sempre posições públicas – tal como o PS Amares – para que se salvasse as nossas Termas do estado agonizante em que se encontravam há muitos anos. E entretanto, por iniciativa dos legítimos proprietários, chegou à Câmara uma proposta no sentido desta adquirir o património e salvar a nossa estância termal e a atenção despertou nos responsáveis municipais.
Diga-se em abono da verdade que inicialmente, numa atitude de sã convivência, o Presidente em privado perguntou à oposição – a mim inclusive – o que achávamos deste caminho. Desde o primeiro minuto estivemos de acordo nas preocupações que tal processo acarretaria, pois é uma decisão histórica e estruturante, com enormes responsabilidades que daí advém. O que eu estranho é que desde aí, nunca mais nos tenha sido informado do decorrer do processo, bem como os contornos com que o “negócio” iria ser realizado. Zero, até à famosa entrevista nos jornais!
Agora… lembro que o Presidente anunciou na imprensa uma aquisição que nem a Assembleia Municipal tinha discutido e aprovado, numa atitude presunçosa de quem se sente o “Dono Disto Tudo”!
Ninguém tem dúvidas que é urgente salvar as Termas de Caldelas e salvar aquela comunidade, que desde sempre viveu ancorada na atividade termal. Ninguém duvida da importância estratégica que a estância termal assume para o nosso concelho.
No entanto, não podemos pura e simplesmente avançar de cabeça numa decisão como esta, sem que o executivo explique convenientemente as condições desta aposta, que jamais poderá ser usada como trunfo eleitoral.
É deveras muito estranho todo o secretismo que de repente rodeou todo o processo, que acabou por ser aprovado recentemente na Assembleia Municipal. A não ser que esconda mais uma decisão errática, sem trabalho detalhado, baseada na intuição política, como tantas vezes tem acontecido neste mandato. O problema é que nesta decisão, dificilmente se pode voltar atrás, como noutros tropeções que este executivo PSD/CDS já protagonizou.
O que o Presidente da Câmara pediu na Assembleia Municipal foi um “cheque em branco”, que nem todos aceitaram passar, pois há ainda muita informação que não é dada a conhecer, por exemplo:
São muitos enigmas e tanta sede de ir ao pote!
Para salvar as Termas de Caldelas não basta anunciar a compra dos edifícios, pois é necessário saber como recuperar o património e reabilitar todo conceito e atividade termal.
Duvido, por isso, que assinar já este contrato de aquisição seja um passo seguro.
Esta operação deve estar no plano de investimentos do Município, por tudo o que referi, mas merecia outro respeito e não servir de mero panfleto eleitoral.
Mudámos de ano e já entrámos em 2021!
Todos desejamos que este seja um ano melhor que o último, pois 2020 foi um ano mau demais para todos nós. Toda a nossa realidade mudou devido à pandemia e não há, nos dias de hoje, um paralelo de algo semelhante que nos tenha acontecido, no pós-25 Abril.
A verdade é que o novo ano traz também eleições Autárquicas. Nunca se entrou numa fase de política local igual a esta, com tão calmo ambiente político e, diga-se, tão pouco entusiasmo para com os poderes instalados.
Tudo normal, pois à preocupação reinante quanto à saúde de todos nós, alia-se um desencanto natural de um povo que em Amares se sente mal governado.
Amares não está como estava e a as suas mudanças são inequívocas: Estamos bem pior!
Nas nossas ruas os depósitos de lixo envergonham; nas nossas estradas abundam buracos, lombas e depressões; no nosso comércio e nas nossas empresas luta-se para honrar compromissos; nas nossas casas a água chega aos soluços; nas nossas famílias desespera-se por empregos seguros; no nosso património continuamos a chorar as perdas; no nosso associativismo temos mais reféns do Município que nunca… e poderia continuar a citar a lista da desgraçada governação municipal.
A realidade é dura: Há pessoas a desesperar em Amares, sem que a Rede Social lhes dê respostas. Há famílias que passam fome! Há casas onde entram pingos da chuva sem serem “convidados”!
Entretanto, tivemos a felicidade de um grupo de Amarenses terem conseguido criar um movimento civil que foi brilhante na solidariedade e convocou o que Amares tem de melhor: a sua gente!
Foram heróis, que minimizaram a preguiça daqueles que têm obrigação de gerir os milhões da coisa pública com mais competência e responsabilidade.
E agora as Autárquicas!
É verdade que em Amares a “montanha pariu um rato”!
Aqueles que outrora anunciavam que iam combater os “barões”, hoje provam que afinal não passaram de personagens “quixotescas”, nos primeiros ensaios populistas na nossa terra.
Sim… algum desse populismo que está estudado e que a democracia precisa urgentemente de combater. Esse populismo que mente, destrói, engana e constrói realidades paralelas. Um populismo que, ao contrário do que se diga, não está “próximo das pessoas”, mas faz de conta que quer cuidar delas.
Uma das armas do populista é o convocar das hostes com muita festa, folclore e “comezainas”. A receita da política romana “Pão e Circo” continua a ter seguidores nos novos tempos, com o mesmo fim: que o povo distraia a mente e se esqueça da política e de quem tem a obrigação de o governar.
Mas os tempos pandémicos não permitem festas e arraiais, desses que sorveram no passado centenas de milhares de euros aos cofres da autarquia.
O mundo não pára, os tempos são outros e as pessoas precisam de mais governo e menos manobras de diversão. Assim, o modelo populista precisou adaptar-se a uma espécie de Big Brother político. Mas agora, um cartaz à beira da estrada afigura-se muito pouco para convencer quem sente que merece mais… muito mais.
Honra seja feita àqueles que lutam de verdade! E é verdade que esta terra também tem autarcas dos bons! Muito bons!
Quanto aos outros… Lincoln, que foi Presidente dos EUA, disse um dia: “Podes enganar o povo por algum tempo, mas não enganarás todos para sempre.”
As relações humanas são um eterno mistério!
No mundo da política é frequente as relações pessoais e de grande confiança influenciarem as decisões políticas e institucionais e nem considero que isso seja sempre mau. O que já não é aceitável é que alguém que detenha grandes responsabilidades institucionais se deixe capturar pela fácil reação de eventuais más relações pessoais.
Sem indiretas e falsos moralismos, vêm-me à cabeça os mais recentes problemas que opõem a Direção dos Bombeiros Voluntários de Amares e o Município, com uma troca de acusações em público que pouco dignificam as instituições envolvidas.
É sabida a boa relação pessoal existente entre os líderes das duas instituições. Também é conhecida a ampla e saudável colaboração que, também fruto dessa relação, as duas entidades vão mantendo.
Mas o que se passa agora?
Sem querer atribuir culpas a qualquer das partes, a única verdade que é inquestionável é a de que a obrigação de qualquer representante institucional é manter a urbanidade a leal cooperação institucional, independentemente de gostar mais ou menos do seu interlocutor.
As relações institucionais nunca podem ser prejudicadas por fatores alheios à história e vida das instituições, muito menos, qualquer protagonista tem o direito de usar a instituição que representa para acertar contas pessoais, mal resolvidas.
Já vi grandes organizações serem representadas por grandes gestores e estrategas, mas que não sabiam atuar e estar no seu ecossistema político, com danos irreparáveis para a imagem pública dessas organizações.
Também aqui é crucial ter um perfil adequado e não é preciso ser um expert das relações públicas, para se perceber que quando representamos uma instituição – seja ela pública ou privada – há duas regras de ouro que não podemos nunca esquecer: 1º A representatividade que nos é conferida é temporal e não nos pertence. Nem a representatividade nem a instituição; 2º Qualquer instituição que representemos tem um determinado papel e é a esse que estamos confinados. Qualquer intromissão em entidade alheia é uma ingerência inaceitável e imoral.
Apague-se o que de mal correu até agora e relativize-se os “ditos”, porque se há coisa que já aprendi na política é a de que há a verdade a defender, mas há uma boa percentagem dessa verdade que pode não o ser.
Lembro-me sempre de uma célebre frase um estadista britânico, que afirmava que uma mentira dá rapidamente a volta ao mundo, sem que a verdade tenha tempo de se vestir.
Pois é tempo colocar pés ao caminho. Há uma obrigação a cumprir que é de bem representar as entidades. Não é aceitável que duas organizações desta importância não falem há meses, principalmente num momento tão delicado como o que vivemos. A comunicação entre as partes é essencial para limar arestas, flexibilizar posições e (re)começar a trabalhar. Toca a engolir o ego, se fazem favor!
Aproveito para desejar a todos os leitores um Natal em harmonia familiar. Com saúde e muita sorte, pois são ambos muito preciosos nos tempos que vivemos.
Um abraço fraterno!
A crise pandémica que o mundo está a viver é um risco real, que põe em causa toda a humanidade, abalando as sociedades tal como as conhecemos. Também é certo e sabido que o coronavírus Covid-19 veio transformar as nossas vidas, em alguns casos de forma definitiva.
Não podemos é transformar esta desgraça na desculpa de todos os males.
É comum ouvirmos muitos políticos justificar a sua escolha de não fazer o que é esperado por efeitos do… Covid.
No entanto, as empresas que lutam todos os dias para manter postos de trabalho não podem pagar as contas com medicamento para o Covid.
As famílias não sustentam as suas bocas com teorias do Covid.
Os jovens que lutam por um primeiro trabalho – coisa rara nos dias que correm – não podem socorrer-se do Covid.
Nem sequer as crianças podem justificar as eventuais más notas na escola com a pandemia do Covid.
Ninguém ficou isento das suas responsabilidades de base, por causa da crise pandémica.
A todos nós portugueses – que demos ao longo da história grandes provas de resiliência e adaptação às adversidades – é pedido que sejamos corajosos e rigorosos no combate a esta crise, mas ao mesmo tempo que sejamos capazes de fazer a nossa parte para manter a sociedade funcional.
Estamos de acordo: Juntos poderemos!
No entanto não admito – chega a ser insuportável – que quem tem responsabilidades políticas, tendo sido legitimado pelo voto do povo, se desculpe com Covid para esconder a sua inércia, incompetência e, principalmente, a defesa do seu próprio “quintal”.
Com a recente aprovação do Orçamento da Câmara já sabemos por onde vai andar o dinheiro público dos Amarenses em 2021. Antes de escrever este artigo tive o cuidado de passar os olhos em alguns resumos do que vai acontecer ao mesmo dinheiro público nos concelhos da região.
Um dado em comum: Quase todos se queixam do Covid!
No caso de Amares, os problemas de sempre vão continuar a existir e não… a culpa não é do Covid!
É ano de eleições autárquicas e então os recursos (poucos, porque a casa está pobre) são canalizados para estratégias e agendas pessoais e não para resolver problemas.
Espanta-me que, e de tanto falarem no Covid, nenhuma das Câmaras da região crie, por exemplo, um Fundo de Reserva para acudir a casos de extrema urgência no inverno que se aproxima, que ameaça ser o pior de sempre na democracia portuguesa.
Na próxima primavera muitas empresas e famílias de Amares podem já não ver o florir da estação, pois é facto que não somos um concelho competitivo.
Por culpa de quem tem gerido os destinos do concelho, temos muitas carências por resolver e… a culpa não será do Covid!
A culpa será daqueles que têm a responsabilidade de gerir dinheiros públicos e não sejam capazes de fazer verdadeiro serviço público com esses recursos.
Escreveu em tempos um escritor francês: “Quem se desculpa, acusa-se!”
Ponto prévio: Sou dos que acreditam que a justiça deu passos gigantes em Portugal. Nas últimas décadas vimos finalmente condenados inúmeros “estarolas” e o sentimento de impunidade no crime de “colarinho branco”, felizmente já viveu dias mais saudáveis.
Aqueles que me conhecem sabem que sou insuspeito. Sou, assumida e convictamente, um homem de esquerda, muito embora já me tenha situado, em tempos mais jovens, numa esquerda um pouco mais “vincada”.
Há muitos anos cheguei a estar numa Festa do Avante, como estive ao longo da vida em estádios de futebol, festivais de música, salas de cinema, peças de teatro, ou congressos de vária natureza. Por uns tempos, infelizmente, nada disto é sensato. Mesmo que, por exemplo, as nossas Festas Antoninas, ou a nossa Feira Franca sejam alguns dos muitos eventos que já deixam saudade.
Acima dessa saudade está um bem maior: a saúde pública.
Vivemos tempos excecionais nunca antes experienciados, que colocam à prova a humanidade. Com a crise do COVID-19, vivemos tempos que nos proporcionam a oportunidade de nos distanciarmos definitivamente de comportamentos autodestrutivos, fazendo-nos aproximar de um posicionamento reclamado pelas novas gerações. Uma consciência com marcas de sensibilidade ambiental, de direitos humanos, de defesa de causas, mas acima de tudo, um mundo que hoje nos lança o desafio de sermos capazes de nos regenerarmos, em nome do futuro do planeta que habitamos.
Diria que na base está exatamente isto: Estar ou não estar consciente do mundo que nos rodeia.
O que esperam as pessoas dos políticos? Decisões conscientes e confiáveis, desde Amares até aos confins da terra. Se só conseguem olhar para o umbigo… está errado!
Voltando à Festa do Avante, não posso deixar de considerar que o PCP ao teimar na organização do evento está a assumir um comportamento político irresponsável e pedagogicamente incorreto. Infelizmente conta com a anuência de um Governo que até tem feito um grande trabalho nesta crise pandémica.
Sendo fiel aos valores da esquerda, defendo o exercício ideológico democraticamente livre, na mesma medida que considero absolutamente inalienável o interesse público e o bem-estar social. Não posso apoiar um liberalismo de esquerda que leve à inconsciência de atos que coloque em causa a segurança dos cidadãos.
No momento em que escrevo estas breves linhas o PCP prepara tudo e parece insistir no irresponsável ajuntamento de milhares de pessoas na Quinta da Atalaia, no Seixal. Neste mesmo momento, leio e vejo notícias com evidências que apontam para uma segunda vaga da pandemia na Europa e no nosso país.
Qual é o sentido disto?
Só posso fazer uma leitura: O PCP está mais preocupado em afirmar a militância e o seu fervor ideológico, do que propriamente em combater – com decisões ponderadas – a crise de saúde pública que há quase meio ano tem ceifado vidas humanas.
Que exemplo é este?
São estas “novelas” que explicam algum descrédito do povo em relação aos partidos políticos tradicionais. Os resultados do PCP nas eleições mais recentes começam a ser explicáveis.
Pior: Este é terreno fértil para que os Ventura’s desta vida especulem e se popularizem como falsos moralistas. Logo ele, que tem destes e mais alguns pecados ainda piores.
É uma pena!
A resposta para mim é, SIM.
Ainda é bom usufruir da nossa terra, que tem gente boa, paisagens e lugares maravilhosos e fatores múltiplos, que fazem valer a pena desfrutar destas terras de entre Homem e Cávado.
No entanto, nos últimos tempos temos percebido que temos perdido anos de desenvolvimento que estão a colocar Amares na cauda dos concelhos da região.
Não vale a pena esconder: Viver em Amares significa não ter garantido um conjunto de recursos – muitos deles básicos – que a esmagadora maioria dos concelhos da região tem como adquiridos.
Três linhas de reflexão simples que merecem uma atenção dos responsáveis políticos e dos Amarenses em geral.
Primeiro, os Amarenses ganham pouco. Soubemos recentemente num estudo sobre o rendimento dos portugueses que o concelho de Amares está no 213º lugar dos Municípios portugueses, no que diz respeito a rendimentos líquidos. Em média, cada Amarense com emprego recebe 564€/mês limpos (7.897€/ano). Amares tem uma taxa de desemprego mais alta que a média nacional e da região e uma alta percentagem de emprego precário. Não temos uma economia próspera e um concelho competitivo e empregador. Não há no nosso território um planeamento que facilite a laboração e o sucesso das nossas empresas, que promova a criação de novo emprego e que atraia investimento para o concelho.
Em segundo lugar estamos longe de ter satisfeitas necessidades básicas. Se no saneamento vamos agora chegar a taxas de cobertura pelo menos aceitáveis, a verdade é que num concelho banhado por dois fartos e abundantes rios continua a faltar água nas torneiras sempre que chegamos ao verão. A rede de abastecimento que temos conta 30 anos! Inaceitável um facto que só resulta da inabilidade e irresponsabilidade política de quem gere os investimentos do Município.
Por último, num concelho que se diz de atração turística e onde se anuncia taxas de ocupação esgotadas – como se um copo cheio significasse o mesmo que meia garrafa – continuamos a desprezar as condições mínimas de atratividade, com estradas municipais esburacadas, jardins e espaços verdes públicos abandonados e, pior de tudo – um serviço de recolha de lixo insuficiente que tem sido alvo de permanente desinvestimento de há uns anos a esta parte.
Pelo meio, os responsáveis sacodem a água do capote, acusando os Amarenses de falta de civismo, gastos de água desmesurados, colocação de lixo fora dos (cheios) contentores, quando todos sabemos que quando os recursos faltam é mais fácil apontar o dedo que encontrar soluções.
Continua a ser muito bom viver em Amares. Temos um potencial imenso a explorar, que só está ensombrado por uma gestão que fecha os olhos ao essencial: a qualidade de vida dos Amarenses.
Quando se perceber que Amares tem que desinvestir nos eventos, para planear mais e apostar na qualidade de vida na nossa terra (e não porque um vírus assim o forçou), viveremos definitivamente num pequeno, mas fantástico concelho.
Talvez trabalhemos mais nele e não nos concelhos vizinhos. Talvez tenhamos tudo o que precisamos nele. Talvez vivamos muito mais nele.
Desejo-lhe umas boas férias!