Opinião de Daniela Gomes, Psicóloga Médicamares
A Psicologia é uma especialidade que avalia, diagnostica e intervém nas doenças mentais, alterações cognitivas, comportamentais e emocionais. No entanto, apesar de ser pouco comum em Portugal, a Psicologia deve intervir numa perspetiva de prevenção e promoção da saúde mental.
Atualmente, Portugal é o segundo país da Europa com maior prevalência de doenças mentais entre a população. Um em cada quatro portugueses sofre de um problema de saúde mental. Segundo dados fornecidos pela Ordem dos Psicólogos, perto de metade dos cidadãos — 43% — já teve uma perturbação mental em algum momento da sua vida. A título de exemplo e por ser a perturbação mais frequente nos adultos, vejamos o caso da depressão. Se, em 2011, a percentagem de portugueses com depressões era de 6,85%, em 2017 tinha subido para 9,8%. O número de embalagens de psicofármacos prescritas duplicou. Só no ano de 2016 foram prescritas perto de 30 milhões de embalagens de psicofármacos, sendo os antidepressivos os mais comuns. A prescrição de medicação em detrimento da psicoterapia é, na maior parte dos casos, a forma simples de adiar a resolução em vez de garantir estabilidade no tratamento e reduzindo a saúde mental a psicofármacos.
Se a depressão é um bom exemplo nos adultos, a hiperatividade e défice de atenção (PHDA) nas crianças e adolescentes é uma problemática que tem vindo a tomar enormes dimensões tanto no nosso país, como noutros países da Europa e da América. Estima-se que 70 000 crianças portuguesas possam estar diagnosticadas com esta perturbação e que uma parte considerável esteja a ser sujeita a abordagens terapêuticas com psicoestimulantes – comercializados com o nome de Ritalina e Concerta. Consultórios, escolas, famílias, confrontam-se diariamente com estas “novas crianças e jovens”. No entanto, se noutros países temos assistido a um amplo debate acerca desta problemática por profissionais da Saúde Mental e da Educação, que apresentam posições firmes contra os abusos do diagnóstico e da medicalização generalizada, no nosso país são poucos os que têm tomado voz, embora sejam muitos os que o critiquem e afrontem na sua prática profissional diária. Um perigoso silêncio que tem deixado caminho aberto para a medicalização da educação na infância e na juventude.
Na ausência de apoio para as suas dificuldades, muitas famílias e também educadores/professores aderem a estas soluções. No imediato as dificuldades são quase que milagrosamente “aliviadas”, mas a problemática está sempre pronta a ressurgir na ausência de uma verdadeira compreensão das suas causas, para além de se pagar caro a curto, médio ou longo prazo devido aos efeitos adversos já bem identificados.
Talvez seja mais que a altura de refletirmos acerca daquilo que queremos para bem da saúde mental de um país cada vez mais “doente”. Talvez esteja na altura de apostarmos em intervenções compreensivas, continuadas e estruturadas de forma a garantir a estabilidade dos tratamentos.