Ponto prévio primeiro: Óscar Alberto Martínez Ramírez. Este é o nome do homem que, tragicamente, faleceu a atravessar o Rio Grande, na fronteira entre os Estados Unidos e o México.
Aconteceu na decorrência da fuga da sua cidade, El Salvador – vitimada pela endémica pobreza e a extremada violência dos gangues –, na companhia de mulher e filha, após desesperante espera no campo de concentração de Matamoros, e, na sequência da solicitação (não concedida) de asilo aos EUA, havendo resolvido empreender arriscadamente pelo atravessamento das águas de tão célebre rio.
Depois da primeira travessia com a filha menor, regressou para recolher a esposa. A criança, do lado americano, impaciente e aterrorizada, voltou a entrar na água, levando a que Óscar Ramírez voltasse para trás, tendo que combater a correnteza das águas traiçoeiras.
O resultado, registado e fotografado por Julia Le Duc, é, simplesmente, repugnante. Pai e filha, Valéria, unidos para a eternidade, boiando mortos na costa. Homem e filha, envolvidos pela camisola preta do pai – numa imagem gigantesca de luto antecipado –,a menina com os seus sapatos infantis e a fralda da inocência da vida, corroendo a mente dos que ainda conseguem conviver na fímbria da dignidade, questionando a acção inconsequente de líderes políticos, de ambos os países envolvidos, bem como de tantos outros, responsáveis por tragédias em outras latitudes.
Trump continua a sua saga persecutória e criminosa de fechamento a pedidos de ajuda provindos de pessoas que fogem de crimes hediondos e de guerras e de alterações climáticas – por aqueles e outros provocadas –, refugiados – e, não migrantes –, que merecem a vida por oposição à morte. Aquela fotografia realça as mortes não tão mediáticas, de crianças que, no âmbito das mesmas condições, perecem por insolação, desidratação e fome. Crianças e adultos, vítimas de guerras, cartéis, comércios de armas, e negacionismo das alterações climáticas, negócio este que a ninguém deixa impune – inclusivamente, países da UE –, e tráficos de droga que a ninguém poupa. Tantos crimes. Tamanha desumanidade.
Ponto prévio segundo: Outubro é mês de eleições legislativas. Na minha opinião, seria profundamente positivo repetir-se o acordo entre PS, PCP, “os Verdes” e BE. Qualquer maioria absoluta seria desastrosa para o País, não obstante caindo para os do Largo do Rato. Posto isto, não se abstenham. Vamos ao voto.
No passado número de Agosto de “O Amarense”, referi que o combate às alterações climáticas passará pela acção de todos – nações; partidos políticos; associações ambientais; investigadores; empresas. Porém, acrescentei estar plenamente convencido de que se as populações não internalizarem a gravidade e importância dos actos de cada um, nada haverá a fazer-se. Não virá um qualquer deus com o seu toque de midas; não surgirá um qualquer super-herói, de capa e collants – ou vestido de morcego –, para todos salvarem; não serão construídas arcas da salvação com o timoneiro Noé e respectivos casais de cada espécie; não será a elite minoritária capitalista que desinvestirá dos seus interesses; não serão alguns dos políticos, manietados pelos donos do mundo – aqueles que não desinvestirão dos seus interesses –, a alterarem os destinos do mundo.
Não. A solução está na mão de todos nós, sem excepção, junto dos nossos, na nossa casa, na nossa rua, no nosso bairro, na nossa freguesia. Está na nossa mão alterar acções e hábitos antigos, transformar mentalidades, mudar a perspectiva com que se aborda esta problemática que, ao contrário do que alguns nos querem fazer crer, persiste, perigosamente, para uma vereda muito íngreme, com poucas possibilidades de retorno.
Olhemos desinteressadamente para a agro-indústria – contribuidor maior no âmbito das alterações climáticas –, e passemos a mudar os nossos hábitos alimentares. Olhemos aprofundadamente para a indústria tecnológica que suga, a cada segundo, recursos naturais e essenciais ao planeta, e pensemos sobre o que é realmente importante possuirmos no dia-a-dia. Olhemos para a indústria dos transportes – nomeadamente, aviação e náutica – e alteremos comportamentos, gastando e usando menos, individualmente.
Continua a ser imprescindível regressarmos à omnisciência sobre a situação actual do planeta, à omnipresença em prol desta luta, e à omnipotência do povo sobre uma minoria de burgueses, capitalistas, neoliberais, que nada mais deseja do que reforçar as suas posses e a sua posição de classe e de casta.
Vamos lá, em cordão humano, pelo salvamento do Mundo! A margem é curta. Mas, ainda é possível! Vamos lá, todos juntos!
Como refere Greta Thunberg, os mais novos jamais nos irão perdoar!