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OPINIÃO -
Setembro é já amanhã

Setembro é já amanhã! E sinto uma preocupação bastante grande sobre que educação teremos nessa altura. O Ministro da Educação tem vindo a público, em várias entrevistas e intervenções, com algumas ideias, sobre os caminhos que podem ser seguidos. E confesso que ainda não percebi bem qual o fio condutor, qual a linha de estratégia, que plano para o ensino. 

Umas vezes somos confrontados com “a possibilidade bastante forte dos alunos virem a ter aulas presenciais, mas também ensino à distância”, isto é, “uma conjugação entre ensino à distância e ensino presencial”, aquilo a que eles chamam de “b-learning”. 

Ouvem-se umas críticas e passado algum tempo já ouvimos que será “privilegiado o ensino presencial”. Setembro é já amanhã e a navegação tem que ser forte, sem tibiezas, enfrentando ventos e marés se estamos convencidos que esse é o caminho.

Como vão fazer as escolas?

O tempo urge, é necessário tomar várias decisões, para que todos os agentes educativos saibam como se orientar e como preparar o futuro. As escolas precisam de saber que modelo se pretende adotar. As escolas precisam estar prontas para dar respostas ao desenvolvimento de um ensino de qualidade.

Todos estamos cientes que a pandemia trouxe novos desafios até então não preconizados e deverão ser mantidos no futuro. No entanto, impõe-se uma reflexão: de que vale ter um Fiat 600 com um potente motor Mercedes, movido a gasolina? Vão ser os professores a decidir que tipo de ensino querem ou só presencial ou uma mistura com o ensino à distância? Como é que isto se vai fazer se já caiu por terra a ideia de um computador para cada aluno?

O Presidente do Conselho das Escolas (CE), José Eduardo Lemos, demonstrou a sua preocupação sobre “quando começa o próximo ano letivo, qual a dimensão das turmas ou se os bares e refeitórios estarão abertos”, estes e outros assuntos continuam sem resposta. 

E sim o tempo urge, é muito importante agir e não deixar o tempo passar, caso contrário corremos o risco de encontrar alguns obstáculos que ainda se encontram bem visíveis nos dias de hoje, famílias e respetivos educandos sem computadores e outros sem internet. 

É necessário recuperar as disparidades visíveis, vários alunos não tiveram oportunidade de apreender ou consolidar os conteúdos dados da mesma forma que os outros. Como se vai fazer para que estas desigualdades não tragam ainda mais insucesso escolar ou problemas futuros?

Observar as falhas, corrigir as mesmas, fazer um levantamento eficaz junto dos parceiros educativos é uma tarefa importantíssima, é hoje e agora que devemos avaliar tudo o que foi menos bem conseguindo, para desta forma fazer melhor. Preparar Setembro, cuidando de todos os envolvidos, alunos, professores, funcionários e famílias, é fundamental para preparar o próximo ano letivo, porque o mesmo está aí a chegar.

Setembro é já amanhã!

OPINIÃO -
Os desafios do ensino à distância

Não deixa de ser paradoxal que professores, pais e alunos estejam de acordo, num terceiro período onde as aulas e os estudos são feitos à distância, reconheçam que a sobrecarga de trabalho é muito maior do que se os miúdos estivessem nas escolas.

É a prova de que não é uma tarefa fácil para ninguém. Os docentes têm na mesma de preparar as aulas, com muito mais trabalho mais tempo. Os pais, e bem, estão mais atentos à vida escolar dos seus educandos, esperando que, no futuro, valorizem mais o trabalho feito em contexto escolar. Os alunos, fruto deste novo método de ensino, estão ainda numa fase de adaptação: há tarefas com graus de dificuldades para realizar; há entregas de trabalhos; há dificuldades técnicas.

Outro aspeto que o ensino à distância ‘esquece’, é o apoio diferenciado que muitos alunos necessitam e até nisso este terceiro período é atípico. O apoio de uma psicóloga, as aulas de apoio suplementar, tudo realidades novas que as escolas estão a adaptar-se

O pensamento terá que ser sempre de futuro: o que podem os agentes educativos tirar desta nova realidade quando as coisas estiverem mais estabilizadas? Que papel terá o ensino à distância nesse futuro? Voltaremos ao comodismo da “escola do século XX com professores a falar sem parar, escolas com má internet ou sem ela, ausência de pesquisa e de trabalho de grupo, muitos professores info-excluídos? Onde a indisciplina grassava a boa relação professor-aluno, individualizada era pouco frequente” citando o psicólogo Daniel Sampaio.

Continuando a citar Daniel Sampaio, “é importante que aproveitem esta experiência para promover a autonomia das aprendizagens. Espero que os professores também aproveitem esta situação para alterarem as suas metodologias de ensino, transformando a sala de aula num grupo de trabalho cooperativo. Pôr os alunos activos na sala, evitar longas exposições teóricas, fugir de filmes prolongados em sala obscurecida, saber tirar partido da heterogeneidade da turma”.

No Agrupamento de Escolas de Amares, as psicólogas, em articulação com os intervenientes no processo educativo disponibilizaram os seus contactos para estarem mais perto em caso de dúvida ou para algum apoio específico.

A realidade atual veio exigir de todos os elementos da comunidade educativa um trabalho muito maior, mais articulação e dialogo.

Os computadores e os tabletes tão necessários para uma nova realidade ainda não estão disponível para todos, criando também aí dificuldades. O esforço do Agrupamento de Escolas passa por disponibilizar recursos aos seus alunos, seja cedendo material informático seja reconstruindo computadores através da sua turma de Técnicos de Gestão de Equipamentos Informáticos e respetivos docentes.

As autarquias têm assumido um papel ativo neste processo, nomeadamente, no pagamento de internet às famílias mais carenciadas, o Município de Amares ofereceu esse serviço a todas as famílias que não possuíam o mesmo.

O novo ano letivo está já ali, ao virar do portão. Que realidade iremos ter? É a pergunta que para já não tem resposta.

OPINIÃO - -
Magalhães? Cadê?

Num tempo de isolamento, recolhimento e reflexão sobre a nossa condição humana e social, em que os desafios que se colocam a todos, no futuro, serão extremamente exigentes, não quero deixar de iniciar esta crónica, apelando a todos para ficarem, o mais possível, em casa.

A educação tem, nestas duas semanas após o encerramento dos estabelecimentos de ensino, uma verdadeira prova da sua vitalidade, do seu actual estado, das suas fragilidades e das suas forças. Sabendo que, em termos presenciais, a escola como a conhecemos acabou no presente ano letivo, convém perspetivar os tempos mais próximos, sobretudo o terceiro período.

A primeira evidência é que não estamos preparados para o ensino à distância. Há famílias sem as mínimas condições para responder aos desafios que são colocados nesta matéria ou porque não têm computadores ou porque a rede de internet é praticamente inexistente ou ainda, porque a sobrecarga da rede é tal que torna tudo mais lento.

Depois, os conteúdos não estão adequados para este sistema de ensino. Não faz muito sentido andarem-se a imprimir exercícios para voltar a digitalizar e enviar, depois, para os professores. Como, também, não faz muito sentido dar aulas, neste sistema, como se dentro de uma sala se estivesse, com a duração prevista.

A segunda evidência é que chegados a 2020 se percebe quão impreparada está a sociedade, a escola e as famílias para a realidade virtual. Fala-se em 5G e há quem esteja já a testar o 6G mas o percurso que um país como o nosso tem que fazer para massificar tudo isto é longuíssimo. Ou então, criaremos um país com várias velocidades reflectindo-se isso nas próprias escolas.

Já agora onde está o programa de um governo anterior que queria tornar as novas tecnologias uma realidade quotidiana, tendo, inclusive, distribuído computadores por milhares de alunos, os famosos Magalhães, lembram-se?

Não era já, nessa altura, objectivo tirar sobrecarga das salas de aula, permitindo aos alunos estudar, pesquisar e descobrir fora do contexto escolar? E os professores não iriam ter ferramentas adequadas e adaptadas? Mas como se pode falar em ensino à distância em escolas com um parque informático obsoleto e sem qualquer garantia de fiabilidade?

O terceiro período vai ser difícil. Há uma nova realidade para a qual a comunidade educativa não está preparada mas há também um buraco negro de incerteza quanto às lições que todos os agentes poderão e deverão tirar de tudo isto. E não ponho na equação os exames e as provas de aferição (realidades distintas) para que tudo não fique ainda mais negro.

Uma palavra final para o Ministro da Educação e apenas para lamentar que Tiago Brandão Rodrigues não seja mais pró-ativo sobre o que podem esperar as escolas. Já todos sabemos que a realidade é excepcional, que é tudo novo para todos mas soluções para o presente e ideias para o futuro têm que ter a sua cara e as suas palavras. Deixar para o secretário de Estado é relativizar um problema que é grave.

Caso para dizer, senhor Ministro não fique em casa e fale com a comunidade educativa nem que seja por skype e através de um ecrã de televisão.

OPINIÃO – -
Violência na escola há que pegar o touro pelos cornos

As notícias dos últimos dias deveriam fazer com que todos nós, agentes educativos, pensássemos na escola que estamos a desenvolver. “A polícia e GNR são chamados, em média, 17 vezes por dia às escolas e, só este ano letivo, já foram públicos 24 casos de agressões ou ameaças de morte”. Assim sem mais.

A violência na escola começou a ficar mais visível a partir dos anos 2000 quando se avançou para um processo de maior democratização do ensino, trazendo para dentro das paredes das escolas, para além dos agentes educativos que já lá estavam, os pais e a comunidade em geral, através de instituições relevantes.

Se os segundos são pacíficos na sua convivência escolar, já os primeiros criaram novos desafios aos professores e alunos para os quais estes não estavam preparados. A adaptação não está a ser nada fácil e as coisas têm tendência para ficarem piores.

O próprio slogan “Uma escola para todos” passa a ser interpretado de forma enviesado, dando a ideia que todos devem ser iguais a todos. O que não é verdade. Os níveis de aprendizagem variam de aluno para aluno, o interesse e a motivação não são uniformes, as convivências sociais são díspares.

Há uma expressão usada na justiça que me agrada muito e que precisa de ser transferida para o ambiente escolar: “cada caso é um caso”, diz-se para justificar decisões judiciais diferentes para situações idênticas. Ora, nas escolas, também, “cada caso é um caso”.

A verdade é que os problemas de violência, de bullying, de agressões têm que ser ferozmente combatidos com estratégias que envolvam todos os agentes educativos, professores, alunos, direções de agrupamentos. São problemas globais que devem ser analisados e depois sancionados casuisticamente.

Um professor perante um caso de violência entre alunos não pode lavar as mãos como Pilatos seja colocando-os fora da sala de aula, seja através de falta disciplinar e esperar que o Espírito Santo venha e resolva. Aliás, as bibliotecas podem ser locais ótimos para acalmar génios para irrequietos mas para isso, é preciso que sejam mandados para lá.

As direções dos Agrupamentos não podem, simplesmente, ‘mandar para casa’ os alunos agressores ou sugerir ‘mudança de escola’ para os agredidos. Os problemas não se resolvem empurrando com a barriga, resolvem-se seguindo o exemplo dos forcados: pegando o touro pelos cornos.

Os pais que invadem os recintos escolares para ‘tirar satisfações’ com os professores deveriam ficar impedidos, e a lei deveria prever isso dando poderes a quem de direito para o fazer, durante um período de tempo de regressar à escola. Se caso for necessário, as autoridades policiais têm que ser chamadas às escolas.

É urgente que haja consequências para quem promove atos de violência na escola. E enquanto isto não for uma prioridade, enquanto não se enfrentar o touro pelos cornos, haverá sempre quem se ache no direito de agredir porque a impunidade continuará a ser a lei.

OPINIÃO - -
Encarregados incoerentes de educação

A educação é um direito, esta altera e transforma a sociedade, e por conseguinte, o indivíduo. Não podemos considerar a educação meramente como transformadora das sociedades, esta é um contínuo processo de desenvolvimento das capacidades físicas, intelectuais, sociais, económicos e culturais.

Vamos imaginar o seguinte cenário: um miúdo numa escola, chamemo-la de mais rural, magoa-se e, por devoção e zelo, a direcção da escola chama o encarregado de educação. Este chega à escola e a primeira reacção que tem é ‘desancar’ em tudo e em todos. Ameaça tirar o filho de lá. Uma ameaça que concretiza no ano escolar seguinte.

Na nova escola, mais urbana, o miúdo não conhece ninguém, quando se magoa ninguém quer saber e o encarregado de educação só sabe quando chega a casa. “Não é nada”, diz-lhe. Até porque “onde estão muitos miúdos é normal haver situações dessas”. E lá continua o filho.

Dias depois, uma manifestação ruidosa tenta não fechar a escola mais rural porque a falta de crianças levou à decisão salomónica das entidades superioras.

Na linha da frente, a falar para todos os órgãos de comunicação está o encarregado de educação desta história. Indigna-se com todos e acusa as autoridades de querem acabar com o mundo rural e com a boa vida do campo. Um verdadeiro “Frei Tomás”. Trocou o carinho, a atenção e o zelo da escola rural pela frieza, impessoalidade e o não quer saber. E só porque o filho se magoou como poderia acontecer noutra escola e noutra circunstância qualquer.

Os pais de hoje na escola são isto: de uma incoerência atroz. Deixam-nos lá das 07h30 às 19h30 e esperam que sejam felizes. Se não são, a culpa é da escola.

São os professores e educadores, e se não forem eles sabe Deus, que guiam estas crianças mas são, também, eles os primeiros a serem responsabilizados pela falta de educação.

No fim-de-semana, onde teoricamente teriam mais tempo, deixam as crianças nos avós e nos familiares e vão tratar da sua vidinha.

Já sei, a vida profissional, os horários massacrantes, os turnos, a exploração laboral são as desculpas. Sim, pode ser verdade. Para quando uma tomada de posição, coerente, para reverter isto?

Não são as manifestações para melhores salários, melhores reformas e menos impostos que deveriam estar na linha da frente. Para exigir mais tempo com os filhos não é preciso mais dinheiro, melhores reformas ou menos impostos. É preciso deixar de ser incoerente e passar a ser exemplar.

Sair para a rua e gritar “queremos mais tempo com os nossos filhos” é que era de valor.

Há um sábio provérbio africano que diz que, para educar uma criança, é preciso toda uma aldeia. Sobre isso, o Papa Francisco é enfático: “Chegou a hora de os pais e as mães voltarem do seu exílio – porque se autoexilaram da educação dos próprios filhos – e recuperarem as suas funções educativas, reapropriando-se dos seus papéis insubstituíveis”. O tempo é único e não volta.

Portanto, pais façam a sua parte, educando, acompanhando a vida escolar e exigindo mais tempo com os vossos filhos.

OPINIÃO - -
Podem falar mais alto?

A minha primeira crónica do ano tem como mote o relatório do Conselho Nacional de Educação, sobre o estado da Educação. Muitas das ideias lá vertidas devem merecer uma profunda reflexão, um contributo que, modestamente, espero fazer ao longo de 2020.

A primeira ideia diz que as crianças passam quase quarenta horas por semana nos infantários ou creches. Isto é, mais do que algumas profissões dos pais trabalham por semana! Uma situação que deveria merecer profunda análise por parte dos encarregados de educação. Se deixam para a escola a tarefa de educar os filhos, com que moral vão depois exigir e ‘tomar de esforço’ junto da escola? Um contrassenso ‘vergonhoso’ que os pais fingem não saber.

O estado deplorável do material informático, com computadores antigos, recauchutados, muitos deles sem ligação à internet é outro dos problemas apontados pelo relatório. Já aqui chamei a atenção para este problema, considerado pelas instâncias superiores como menor, mas crucial para uma escola moderna, competitiva e atrativa. Depois do Magalhães, vive-se um autêntico naufrágio informático.

O desinvestimento na educação, visível para quem anda ‘enfarinhado’ no meio escolar, é uma realidade. São menos 700 milhões de euros em relação há dez anos atrás. Então o ensino profissional, para quando pensar nele seriamente?, sofreu um corte como não se via há dez anos.

Lá está, forma-se para a incompetência, para os rankings. Que sentido é que faz, falar-se em retorno da aprendizagem na vida social e profissional, se o que se está a desenvolver é uma escola acrítica, pouco preparada para as realidades e com alunos sem qualquer tipo de interesse naquilo que estão a aprender?

Que retorno é que se quer? Não haverá aqui mais um contrassenso? Mais um atirar areia para os olhos?

O relatório do Conselho Nacional de Educação também apresenta casos de sucesso, curiosamente, quase todos na região da Grande Lisboa.

Finalizo com mais dois aspetos explorados no documento que nos deveriam fazer pensar a todos. A maior percentagem de alunos beneficiários da Acção Social Escolar está concentrada nos percursos curriculares alternativos e nos cursos de vertente profissionalizante ou vocacional (os tais que sofreram um desinvestimento nunca visto). É a famosa expressão de uma escola para ricos e outra para pobres no ensino público? E já agora, onde estão os paladinos do ‘público, público’, do combate às desigualdades sociais, de uma escola para todos? Não os ouço! Podem falar mais alto?

E usando outro chavão de que nunca é tarde para aprender, saliento o aumento do número de universidades da terceira idade, no nosso país. Passaram de 113 para 307. Afinal, há ou não interesse em aprender? Quem de direito já parou para pensar no que está a fazer à educação em Portugal?

OPINIÃO - -
Vai um chumbo?

O novo governo está aí e, em termos de educação nada mudou ao que a caras diz respeito. O ministro é o mesmo logo as políticas serão, praticamente, as mesmas. No entanto, uma das ‘novidades’ apresentadas prende-se com o plano governamental para acabar com os chumbos do ensino básico, isto é até ao 9º ano.

Não percebi o que isto quer dizer até porque a realidade e a prática demonstram que esta é uma realidade já evidente nas escolas portuguesas, como facilmente se comprova. Mas já lá vamos.

Portugal é um dos países onde os alunos do ensino básico mais reprovam. Uma análise realizada em 2015 pela OCDE no estudo PISA mostrou que até aos 15 anos 31,2% dos alunos portugueses já tinham chumbado. Pior que Portugal só a Bélgica e a vizinha Espanha.

Já escrevi nestas crónicas, a minha relutância, enquanto pai, da inexistência de retenções nos diferentes níveis de ensino. É a minha opinião, vale o que vale, mas serei sempre pela promoção da excelência em detrimento da mediocridade. Serei sempre pela valorização de quem se esforça a trabalhar e pela penalização de quem encara a escola como uma obrigatoriedade, lugar de ócio e onde professores e funcionários estão ao dispôs destes calaceiros.

Ora, como é bom de ver, não partilho, na generalidade, da posição assumida pela Confederação Nacional de Associações de Pais (Confap) que afirma “não se está a dizer que os alunos vão passar mesmo que não saibam, vamos é encontrar instrumentos para eles não ficarem para trás. O princípio parece-nos correto e não faz sentido manter tudo como está”, acrescentando que “se há alunos que não conseguem acompanhar a corrida, é preciso um plano de trabalho diferenciado, que é o que as famílias fazem, quando optam, por exemplo, por explicações”.

A minha discordância começa logo nesta ideia, muito portuguesa, de que se “se arranjarem instrumentos” para resolver um problema, como se este fosse um problema novo e ninguém tivesse pensado nele.

Porque não reforçar em meios humanos e lectivos a disciplina de estudo acompanhado que poderia funcionar como “explicações” dentro da escola? Criar, dentro desta disciplina, ‘turmas mais pequenas’ em funções das necessidades e dificuldades específicas dos alunos, até ‘misturando’ alunos de diferentes turmas, se tal fosse necessário?

Trago à colação, um elemento da Associação Nacional Diretores, Filinto Lima, que, sobre esta matéria referiu em declarações públicas: “as escolas precisam de mais recursos para baixar o insucesso: mais professores, mais técnicos especializados, mais docentes em coadjuvação. Reduzir as retenções é possível e acabar com elas seria o ideal, um sonho, mas raramente se atinge o ideal. Deviam atribuir a cada escola um número de turmas e nós comporíamos de acordo com os nossos alunos. Poderia fazer turmas de 30 ou de 15 alunos e ambas funcionariam bem, porque eu é que conheço a minha realidade”.

Finalizo lembrando que nada disto é novo. Uma notícia de 2016 saída no jornal Público referia que havia escolas do ensino básico em que os alunos chumbam quando têm negativa a três ou mais disciplinas e outras em que estes podem passar de ano mesmo que tenham sete “negas”.

Há matéria legislativa, há mais de uma década que refere a retenção “como medida excepcional” nos anos não terminais de ciclo. Para finalizar, posso concluir que a ideia do Governo é ir ainda mais longe do que está na lei, acabando, como qualquer regime de excepcionalidade? É governando para rankings e não para a criação de competências, espírito crítico e raciocínio lógico? É para nivelar por baixo?

Como alguém costuma dizer: “agora aturem-nos”.

OPINIÃO - -
Variações não gostava de maionese

O filme ‘Variações’ está aí nos cinemas e é uma excelente sugestão quanto mais não seja para conhecer um pouco melhor a vida de um ilustre amarense que saiu de Fiscal à procura de um novo mundo já que o mundo onde estava inserido era muito pequeno.

A antestreia foi no relvado do parque das Termas em Caldelas e mobilizou os amarenses e não só, para a sua visualização. Finalmente, o ‘António’ começa a ter reconhecimento na sua terra, depois de anos de um ostracismo incompreensível.

Não é a cara que faz um homem, é a sua essência, o seu talento, aquilo que genuinamente é. E quando andamos preocupados com as caras, com os liftings e os botoxes, esquecemos que os valores não se mascaram, não se iludem. Mais tarde ou mais cedo, o tempo, o melhor amigo do homem, encarrega-se de fazer justiça.

António Variações, como mostra o filme, não sabia de música mas tinha uma curiosidade e um sentido rítmico muito apurado, a cena da caixa de ritmos é o exemplo disso. E é por aqui que quero entrar na vertente educativa.

Há quem lhe chame a cultura da maionese. Todos os anos multiplicam-se as festas pelas escolas movimentando professores e alunos, tudo mascarando de grande brilhantismo até porque há professores que conseguem transformar as crianças em exemplos de brilhantismo.

Tudo fruto do trabalho dos docentes, do empenho e alegria dos alunos e, não menos importante, da participação babada dos papás e das mamãs na assistência. Qual é o problema, afinal?

Todo o esforço e trabalho são feitos com base no mais pimba e moralista que existe. Não consigo perceber como ainda se (des)educam crianças com o mais básico do que existe a nível musical, até porque preparar um espetáculo de qualidade duvidosa requer o mesmo tempo para preparar um outro onde textos e músicas respeitem a decência cultural.

Não estou a criticar os professores mas custa-me entender que gastem o seu empenho e talento em algo que, se calhar, fora do contexto escolar, não lhes mereceriam um segundo da sua atenção.

É a mesma coisa que uma cozinheira de mão cheia preparar o melhor cozido à portuguesa e depois cobri-lo com um molho de maionese, só porque as refeições de fast-food estão na moda e se adaptam ao pretenso saber do cliente.

Cobrir de maionese a cabeça e o coração dos nossos alunos é um crime de lesa-majestade. Foi com isso que o António Variações não quis pactuar. Foi procurar um mundo que o entendesse, onde se pudesse expressar de forma livre. Sem maionese. Apenas de forma genuína.

OPINIÃO - -
Podem pensar um bocadinho, por favor?

Um estudo saído na revista lusófona de educação dá conta da alta dependência dos professores em relação ao manual escolar, o que supõe que os professores tenham por hábito deixar as decisões sobre os materiais curriculares nas mãos das editoras.

A análise dos processos e das estratégias editoriais, dos processos de distribuição, das caraterísticas e análise dos materiais produzidos no contexto educativo não formal, do impacto das novas tecnologias nos processos de planeamento, do uso e avaliação dos materiais curriculares impressos e dos materiais curriculares digitais são assuntos estratégicos mas deixados nas mãos de entidades ‘sinistras’, sem rosto.

Os livros escolares assumem, por este dia, o protagonismo da discussão escolar por causa do seu uso, da sua função e da responsabilidade do aluno, logo das famílias, perante esses mesmos livros. A verdade é que este processo está inquinado desde o início: o governo que lava as mãos como Pilatos, as editoras que assobiam para o lado na questão da funcionalidade dos livros, os professores, assoberbados de tantas coisas, usam o livro como ferramenta principal e as famílias andam muito ‘à nora’ com estas novas regras.

Dizem os responsáveis que os livros são emprestados e não dados e que por isso têm que ser utilizados com cuidado. O pensamento dos alunos deve ser que os vão entregar no final do ano, acrescentam, tratando-os como se fossem passar para um familiar. Até aqui pacífico.

Mas se os livros são para manusear com cuidado, são para entregar no final, que sentido é que faz terem exercícios para serem resolvidos no próprio livro? Não deveriam estar em fichas separadas, passíveis de serem fotocopiadas? (Já sei que me vão falar da treta dos direitos de autor).

Não estará isto a acontecer para que o negócio das editoras não definhe? É que um livro apenas de consulta, sem exercícios tem, com certeza, um desgaste mais lento e isso não é bom para o negócio.

Manuais com espaços para escrever? Editoras têm de garantir que dá para apagar, dizem. Mas interessa-lhes?

Recordo que o Tribunal de Contas já alertou precisamente para a fragilidade da sustentabilidade do programa de gratuitidade dos manuais escolares, tendo em conta que a percentagem de manuais reutilizados estes ano lectivo foi inferior a 4%.

Este ano, a medida chegou a 528 mil alunos do 1.º e 2.º ciclo do ensino básico, tendo custado quase 40 milhões de euros (29,8 milhões com os manuais e 9,5 milhões com licenças digitais).

No próximo ano lectivo, o programa será alargado a todos os estudantes do ensino obrigatório das escolas públicas e estima-se que custará cerca de 145 milhões de euros. Podem pensar um bocadinho, por favor?

OPINIÃO - -
Um pai não manda um familiar resolver o problema com o seu filho

A abertura da escola à família e à comunidade é há muito tempo considerada fundamental pelos bons educadores e confirmada por recentes estudos sobre índices de qualidade da educação mas pressupõe convivência, reconhecimento mútuo, diálogo.

Apesar de inúmeros esforços e conquistas que vêm sendo feitas, a realidade é que estamos, ainda, longe do desejado, ficando, muitas vezes, apenas nos discursos e nas intenções, como visão romântica do assunto, trazendo quase sempre, experiências pontuais e descontínuas.

Imaginemos que um pai tem um problema com o seu filho. Não seria de todo compreensível que pusesse nas mãos de um amigo, de um tio ou de um irmão a resolução desse mesmo problema. Existir intervenção externa para orientar, aconselhar pode fazer sentido mas a decisão do caminho a seguir tem que ser sempre do pai.

Com a escola, o processo tem que ser igual. A estrutura escolar não pode resolver problemas delegando em entidades externas ou simplesmente riscar, adiar ou tentar passar pelos pingos da chuva na esperança que tudo se resolve. Não é por varrer o pó para debaixo do tapete que ele deixa de existir.

Mais grave seria, se a escola criasse um ‘muro’ à volta dela, impedindo que a comunidade e as instâncias públicas e políticas ‘entrassem’ no seu recinto. A história demonstra que o quero, posso e mando acaba por não dar bom resultado.

A escola é um espaço concreto da expressão do público porque atende a diferentes segmentos sociais. Para ela, dirigem-se todos os dias milhares e milhares de crianças, adolescentes e jovens, durante anos seguidos das suas vidas.

Ao defender a abertura da escola para a família e a comunidade, não se pretende sobrecarregá-la com mais uma responsabilidade social mas sim convocar utilizadores e instituições públicas, do território onde está inserida, a partilharem o seu projeto, na sua elaboração, no seu acompanhamento e na sua avaliação do processo pedagógico.

A aproximação da família e da comunidade com a escola, incluindo as instituições do poder público local e as entidades não-governamentais, é primordial para que a rede de proteção e garantia dos direitos da criança e do adolescente seja salvaguardada, de maneira a incluir todos, não permitindo nenhum tipo de exclusão.

Quando a escola dialoga com outros espaços de educação, procurando parcerias que têm os mesmos propósitos educacionais, sem intenção de substituir o poder público, começa a voar e a encontrar o seu caminho diferenciador, autêntico logo reconhecido.

Fortalecer a integração da escola com o território no qual está inserida, visando uma maior participação das famílias e dos representantes da comunidade local na construção e execução do seu Projeto Pedagógico. Este deve ser o objetivo das estratégias de articulação das escolas com os famílias dos estudantes e parceiros da comunidade.