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OPINIÃO -
A Telessaúde veio para ficar?

Opinião de Gonçalo Alves

 

A Telessaúde é um serviço inovador no atual contexto da pandemia e um progresso no setor da saúde, ao permitir uma maior proximidade com os doentes. Se dúvidas houvesse quanto à sua utilidade e à capacidade de resposta da Telessaúde, estas têm vindo a dissipar-se ao longo do último ano. A pandemia deu um impulso adicional à Telessaúde e permitiu entender que esta é um instrumento funcional e capaz de complementar ou mesmo intersubstituir, de forma adequada e dentro das limitações que conhecemos, consultas e outros atos presenciais, aliviando a pressão nos serviços de saúde.

Em plena pandemia, este serviço assumiu um papel fundamental na prestação de cuidados médicos e de enfermagem aos utentes (na idade adulta e pediátrica), tendo como principal vantagem a flexibilidade e facilidade de acesso a consultas, sem necessidade de se deslocar a uma unidade de saúde, diminuindo o risco de contágio de infeção pelo novo coronavírus. Através de uma teleconsulta, seja por voz ou vídeo, em pouco tempo é possível um profissional de saúde avaliar situações de doença aguda, permitindo, igualmente, manter o acompanhamento dos doentes crónicos, de forma continuada, seja por rotina ou devido a agravamento da doença. Por outro lado, a disponibilidade de videochamadas é uma mais-valia, dado permitirem fazer uma avaliação mais global do estado geral do doente e realizar parte do exame objetivo como, por exemplo, a observação da pele e das mucosas, permitindo fazer o diagnóstico de patologias que antes não era possível realizar à distância. Desta forma, a Telessaúde permite realizar aconselhamento e triagem, encaminhando para avaliação presencial apenas os doentes que realmente necessitam e reduzindo a carga nos serviços de saúde a nível dos cuidados de saúde primários e a nível dos hospitais.

Neste sentido, foi criado também o Balcão SNS 24 que é um espaço gerido por entidades externas ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) que aderiram ao protocolo entre a Administração Regional de Saúde (ARS) e a Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) para acesso e prestação de serviços digitais e de Telessaúde aos cidadãos.

O objetivo destes espaços é de facilitar e promover o acesso aos serviços digitais e de Telessaúde entre os cidadãos e os profissionais de saúde do Serviço Nacional de Saúde (SNS), através de criação de condições de maior proximidade e redução de barreiras em lidar com os meios técnicos ou mesmo pela sua inexistência.

Existem várias situações em que os doentes podem recorrer à Telessaúde, nomeadamente em situações de doença aguda, que podem ser rapidamente resolvidas, como por exemplo infeções respiratórias agudas (ex. amigdalites agudas, bronquites, sinusites), infeções do trato urinário, patologia do foro dermatológico, entre muitas outras. Por outro lado, também podem recorrer a este serviço os doentes que necessitem do acompanhamento de rotina, da realização dos rastreios adequados ao seu grupo etário, género ou situação clínica. Por último, os doentes crónicos que necessitem de realizar pedidos de exames complementares de diagnóstico de rotina ou de medicação crónica.

Durante este período pandémico, a Telessaúde teve um papel fundamental no acompanhamento de doentes, uma vez que houve períodos de grande congestionamento nos serviços de saúde, e em que havia dificuldade no acesso a consultas médicas/enfermagem e no acompanhamento presencial. Este serviço conseguiu colmatar algumas destas falhas e tornar a saúde acessível a todos. A Telessaúde é, assim, uma solução que, certamente, veio para ficar. 

OPINIÃO -
Dia Mundial da (saúde da) Criança… todos os dias!

O mês de junho abre com chave de ouro, comemorando-se no seu primeiro dia, o Dia Mundial da Criança! Este dia foi estabelecido oficialmente em 1950, na sequência do Congresso da Federação Democrática Internacional das Mulheres, realizado em 1949, em Paris.

À semelhança de vários países, também para Portugal o Dia da Criança representa uma efeméride importantíssima, cumprindo o objetivo de sensibilizar toda a comunidade para os direitos das crianças e para a necessidade de promover uma melhoria das suas condições de vida, tendo em vista o seu pleno desenvolvimento.

Dada a semelhança no seu propósito, o dia 1 de junho é muitas vezes confundido com o dia 20 de novembro, considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Universal da Criança, porque nele se celebram dois marcos importantes: a aprovação da Declaração dos Direitos da Criança, a 20 de novembro de 1959 e a adoção da Convenção dos Direitos da Criança, pela Assembleia Geral da ONU, em 1989 (que Portugal viria a ratificar a 21 de setembro de 1990).

Não existe uniformização de data para a celebração dos direitos das crianças (para uns, o primeiro de junho, para outros, o 20 de novembro), contudo, o seu objetivo será sempre o mais nobre: promover os direitos e o bem-estar de todas as crianças, onde quer que estejam. Eu diria que qualquer data que coloque os Direitos da Criança na ordem do dia e nos relembre a importância de assumir uma responsabilidade individual, comunitária e institucional pela defesa e proteção das crianças é válida.

O Direito à Saúde é um Direito Fundamental, consagrado em várias convenções internacionais e na Constituição da República Portuguesa. A minha experiência enquanto Enfermeiro permite-me afirmar orgulhosamente o quanto os Direitos da Criança são matéria de exercício quotidiano no Serviço Nacional de Saúde e nos cuidados de saúde primários, em particular. A saúde infanto-juvenil é um dos eixos prioritários da ação nos centros de saúde, desde o planeamento familiar, à consulta da grávida, preparação para o parto e recuperação pós-parto, apoio á amamentação e aleitamento, vacinação, saúde escolar, equipas de intervenção precoce, são inúmeros os atos e intervenções de saúde junto das crianças e jovens e suas famílias. Para além desta missão de prevenção da doença e promoção da saúde infanto-juvenil, existem no SNS programas e equipas nos hospitais e centros de saúde especialmente vocacionadas para as matérias da promoção e proteção das crianças e jovens (os Núcleos de Apoio a Crianças e Jovens em Risco nos cuidados de saúde primários e os Núcleos Hospitalares de Apoio a Crianças e Jovens em Risco), ao mesmo tempo que o Ministério da Saúde se faz representar em permanência nas Comissões de Proteção de Crianças e Jovens.

É uma preocupação e um compromisso diário de todos e cada um de nós, profissionais de saúde, não apenas no primeiro de junho ou no vigésimo de novembro, mas todos os dias! Termino com as sábias palavras de Pessoa: “Grande é a poesia, a bondade e as danças… Mas o melhor do mundo são as crianças”! Um bem-haja a todas as Crianças do Mundo!

OPINIÃO -
Dos cenários de guerra ao combate à pandemia: uma história que se escreve com “E” de Enfermagem

Opinião de Gonçalo Alves

 

Celebra-se a 12 de Maio o Dia Internacional do Enfermeiro, um dia no ano para reconhecer o valor de tantos homens e mulheres que trabalham abnegadamente em prol do outro, contribuindo ativamente para a comunidade envolvente, salvando vidas, promovendo saúde, cuidando, formando, prevenindo.

Esta data – 12 de maio – foi escolhida pelo Conselho Internacional de Enfermeiros por assinalar o aniversário de nascimento de Florence Nightingale (1820-1910), que é considerada a fundadora da enfermagem moderna. Nightingale destacou-se enquanto enfermeira-chefe durante a Guerra da Crimeia (1853), reconhecendo-se igualmente a importância do seu trabalho na profissionalização da enfermagem, especialmente para as mulheres. Em 1860, ela fundou a Escola de Enfermagem do Hospital St. Thomas em Londres, lançando assim as bases da enfermagem profissional, tal como a conhecemos hoje. Reconhecem-se a Nightingale outros contributos para reformas sociais relevantes no seu tempo, como a melhoria da assistência de saúde para todos os setores da sociedade britânica, o combate à fome na Índia, a abolição das leis de prostituição consideradas severas para as mulheres, e a defesa de formas aceitáveis de participação das mulheres no mercado de trabalho. 

Inspirando-se na e homenageando a vida e obra de Florence Nightingale, o Dia Internacional do Enfermeiro visa homenagear todos os enfermeiros do mundo e recordar a relevância destes profissionais ao nível da prestação de cuidados de saúde às populações.

É sabido que sou enfermeiro e filho de enfermeira. Foi de resto a entrega e paixão da minha mãe pela profissão que me fez querer desde cedo abraçar esta missão maior que é a Enfermagem. Hoje tenho a honra de representar os meus colegas junto dos órgãos de gestão e de poder nessa condição dar o meu humilde contributo para um reconhecimento cada vez mais justo e expressivo do valor dos enfermeiros. E é também nessa condição que o leitor me dará a liberdade de, neste espaço, homenagear os meus colegas de profissão e em particular aqueles que diretamente trabalham comigo no ACES Gerês-Cabreira.

Não quero ser redundante na referência à pandemia COVID19, mas ela veio confirmar a minha certeza de que temos uma equipa extraordinária, pronta, capaz e competente. Têm sido tantos e tão intensos os nossos desafios no último ano e vocês têm estado sempre à altura. Talvez isso não seja percetível para a população em geral, mas eu sei o quanto têm (temos!) sacrificado as vossas famílias, as vossas férias, as vossas refeições. Recebemos novas diretrizes diariamente e fizemos no último ano mais adaptações e restruturações ao nosso trabalho do que provavelmente em toda a nossa vida profissional: nos métodos, nos horários, no volume e nas condições de trabalho. E cá estamos nós, mais uma vez, a protagonizar a esperança de um povo neste complexo e exigente processo de vacinação covid. Eu tenho muito orgulho nesta Equipa. Tenho em cada um dos meus colegas um exemplo. E sendo óbvio que não precisávamos de uma pandemia para mostrar o nosso valor, o certo é que estivemos à altura, temos superado as provas sucessivas e vamos certamente continuar a fazê-lo. A todos e todas vocês o meu muito obrigado!

OPINIÃO -
Devagar se desconfina!

O desconfinamento diz respeito ao levantamento das medidas restritivas impostas pelo controlo da pandemia Covid19, entre as quais o encerramento de muitas atividades económicas e serviços e o dever de recolhimento geral no domicílio.

O que tem sido preconizado no tão falado plano de desconfinamento gradual é que esse levantamento de restrições seja um processo sequencial, passo-a-passo, que permita garantir o melhor equilíbrio possível entre o controlo da pandemia e a retoma das atividades e, enfim, das nossas rotinas, de modo a evitar uma nova vaga de contágios, com todos os prejuízos humanos, sociais e económicos que isso acarretaria.

Ficou claro na comunicação destas medidas e deste plano de desconfinamento gradual que o mais pequeno sinal de que o número de contágios aumentaria, redundaria num retrocesso, deixando bem explícita a ideia de voltar a confinar, caso tal se verificasse.

A partir de 5 de abril passámos então à segunda fase deste processo de desconfinamento gradual e, entre as medidas mais populares e de certo modo mais desejadas por todos, desta segunda fase do plano, encontrava-se a abertura de esplanadas, lojas e ginásios, e o regresso às aulas presenciais para a maioria da comunidade escolar.

As primeiras notícias dão já conta daquilo que em certa medida seria um comportamento previsível das populações: uma corrida desenfreada ao comércio reaberto e de ajuntamentos em esplanadas um pouco por todo o país.

Estou convicto de que isto se deve à “fadiga da pandemia” de que vos falei no meu artigo do passado mês de março, esse tal sentimento de sobrecarga e de cansaço face à pandemia, e às restrições a que ela obriga, que faz com que o medo face ao vírus seja substituído pela indiferença, diminuindo a nossa percepção de risco e levando-nos a relaxar os cuidados que a situação, insisto, continua a exigir. 

Acresce a isto o sentido de urgência e carência de retorno a tudo aquilo de que nos temos visto privados. Quem diria que pelo segundo ano consecutivo ficaríamos sem a nossa tão tradicional Páscoa e sem as nossas afamadas festas antoninas?! Percebe-se, desde logo sob um ponto de vista sociológico, a nossa sede de recuperar o tempo perdido, os convívios, os abraços, as tradições.

Mas é também já tempo de interiorizarmos que embora tudo possa vir a “ficar bem”, já “nada será como antes”, pelo menos não agora, não no imediato.

Preciso reiterar este apelo: vamos com calma e com responsabilidade. Devagar se vai ao longe e é também devagar que se desconfina. Acredito convictamente na robustez do nosso serviço nacional de saúde e creio que o último ano deixou bem clara a qualidade e resiliência dos seus profissionais, mas é preciso dizê-lo com toda a clareza: os profissionais de saúde estão exaustos. No limite das suas forças. E não pode continuar a depender quase exclusivamente deles a resposta efetiva a esta pandemia. Certo que há hoje muitos outros grupos profissionais que lamentavelmente se vêem devastados pelos efeitos diretos e indiretos da pandemia (aqueles que há um ano não podem trabalhar, por exemplo), mas é justo reconhecer aqueles que nunca vacilaram – os profissionais de saúde.

Sob pena de me tornar repetitivo, mas com a certeza de que preciso aproveitar este espaço para levar esta mensagem de forma consistente a mais pessoas, lembro que a batalha ainda não acabou e que o combate à pandemia é um dever de todos e cada um de nós: o distanciamento, a etiqueta respiratória, a higiene das mãos e o uso de máscara AINDA SÃO IMPERATIVOS! Desconfinemos, sim, mas devagar!

OPINIÃO -
A Saúde para além da pandemia: uma responsabilidade individual

A pandemia Covid-19 dura há já um ano e é inevitável refletir sobre as mudanças que nos impôs e em que medida algumas delas vieram para ficar.

Está em curso a tão esperada vacinação, mas não abriu ainda o sinal verde que desejámos para voltar à “normalidade”. Com efeito, a vacinação devolve-nos alguma esperança, no entanto é um processo que pela sua natureza e complexidade acabará por se prolongar no tempo.

Já aqui neste espaço, em artigo prévio, tive oportunidade de apelar a que os meus leitores aderissem à vacinação para a Covid-19 com confiança. Hoje renovo esse apelo e reforço-o, apelando também à compreensão de que não podemos ser todos vacinados em simultâneo e é imperativo que observemos as orientações da Direção-Geral de Saúde relativamente aos grupos prioritários e ao momento em que cada um de nós, atenta a sua especificidade, será chamado para receber a vacina.

No último ano, as nossas vidas mudaram substancialmente. Estamos todos desertos por abraçar os nossos, conviver com os nossos, ir aos bares, cafés e restaurantes, assistir a concertos e peças de teatro, levar as crianças ao circo. Cortar o cabelo – algo tão rotineiro e que tomávamos por adquirido, é hoje uma necessidade urgente, pelo menos para quem continua a exercer a sua profissão em pleno e a lidar com colegas, clientes e fornecedores, vendo-se a braços com uma farta cabeleira que nos tira se não toda, alguma credibilidade. Brinco, de facto, mas não deixa de ser mais um fator, entre tantos, em que nos vemos limitados nas nossas ações e escolhas. E a nossa autoimagem não é uma questão de somenos. É sabido como o descuido com a mesma está muitas vezes associado a problemas do foro depressivo, seja enquanto sintoma, seja como fator precipitante.

Fala-se já da “fadiga da pandemia”, fenómeno que se considera ter levado à violência dos números da segunda vaga de infeções por Covid-19 que se registou no nosso país em janeiro deste ano e obrigou a um novo confinamento e ao regresso de muitas das restrições do primeiro estado de emergência decretado em março de 2020. A “fadiga da pandemia” refere-se a um sentimento de sobrecarga, por nos mantermos constantemente vigilantes, e de cansaço, por obedecermos a restrições e alterações na nossa vida. Trata-se do momento perigoso em que o medo (que dominou a nossa reação inicial ao vírus), é substituído pela indiferença (onde a nossa percepção de risco diminui, levando-nos a relaxar os cuidados que a situação ainda exige).

Muitas têm sido as vozes de protesto relativamente aos cuidados de saúde não-covid. Ouvimos dizer que outros doentes ficaram esquecidos, que há mais doença para além da Covid-19 e que o adiamento e cancelamento de consultas, cirurgias e outros atos médicos e de diagnóstico deixam muitos doentes não-covid à sua sorte. A questão é que qualquer pandemia, enquanto momento de crise e catástrofe, assume inevitável caráter prioritário. E os equipamentos e profissionais de saúde não se multiplicam, não ao ritmo que este desafio hercúleo exigiria.

É por isso essencial que cada um de nós faça o “trabalho de casa”. Não apenas no que à erradicação do contágio por Covid-19 respeita, observando sempre as orientações específicas a este respeito – distanciamento, etiqueta respiratória, higiene das mãos, uso de máscara – mas adotando comportamentos de saúde no geral. Alimentação saudável, atividade física, descanso, hidratação, abstinência face a consumos nocivos, são conselhos que desde sempre ouvimos por parte do nosso médico e enfermeiro de família, mas nem sempre observamos. A saúde está muito mais nas nossas mãos do que por vezes pensamos. Façamos, então, a nossa parte!

OPINIÃO -
Vacina COVID-19: por todos e para todos

A Campanha de Vacinação Contra a COVID-19 já arrancou e representa a esperança para o tão desejado controlo da pandemia. No entanto, ela tem levantado dúvidas e incertezas à população em geral. Com este artigo, tentarei esclarecer tais receios e contribuir para a confiança neste processo vacinal, motivando a adesão de todos à vacina.

A vacina destina-se a ser ministrada a toda a população Portuguesa, desde que elegível de acordo com as indicações clínicas aprovadas para cada vacina na União Europeia. O processo de vacinação será gradual, tendo sido definidos grupos prioritários, em função da sua maior vulnerabilidade à COVID-19. No site da DGS é possível, respondendo a um breve conjunto de questões, calcular a previsibilidade da fase em que receberá a sua vacina.

A vacina contra a COVID-19 protege-nos individualmente contra a doença e suas complicações, e contribui para a proteção da saúde pública, através da imunidade de grupo. É certo que as vacinas não evitam totalmente o risco de infeção, o que não deve desencorajar a sua toma, pelo contrário, apenas recomenda que se mantenham os comportamentos responsáveis indicados pela DGS (uso de máscara, distanciamento e etiqueta respiratória). Com efeito, os poucos casos de infeção em pessoas vacinadas desenvolveram geralmente formas pouco graves de COVID-19.

No processo de desenvolvimento e aprovação das vacinas contra a COVID-19, tal como para qualquer outro medicamento ou vacina, foi garantida a sua eficácia, segurança e qualidade, através de ensaios clínicos e de uma avaliação rigorosa pela Agência Europeia de Medicamentos. Dezenas de milhares de voluntários foram vacinados e comparados com o idêntico número de voluntários não-vacinados, quanto à ocorrência de efeitos adversos. Os voluntários vacinados foram acompanhados após a toma da 2ª dose ao longo de mais de oito semanas (período cientificamente recomendado), não se tendo observado uma frequência ou gravidade de efeitos adversos que coloque em causa a segurança das vacinas.

Importa ainda esclarecer que, ao contrário do que se especula, a vacina não contém o coronavírus, pelo que, ao fazê-la, não estará a ser infetado através da mesma. No entanto, se contraiu COVID-19 nos dias antes ou imediatamente após a vacinação, é possível surgirem os sinais da doença poucos dias depois da vacinação.

As pessoas que já tiveram COVID-19 adquiriram proteção contra a doença. Presentemente, essa proteção aparenta durar pelo menos três ou quatro meses, mas só com o tempo se saberá por quanto tempo mais se prolonga. A maioria dos especialistas considera ser seguro que quem já teve a doença tome a vacina. Contudo, enquanto o número de vacinas for muito limitado, as pessoas que tiveram COVID-19 no passado não serão priorizadas.

Um vacinado só se deve considerar protegido da doença sete dias depois da toma da segunda dose da vacina. Este é o período que dá garantia de uma resposta robusta por parte do seu sistema imunitário. Por outro lado, desconhece-se ainda se estar vacinado impede a infeção assintomática. As vacinas conferem proteção contra a doença, mas não necessariamente contra ser portador e transmissor do vírus, sem exibir sintomas. Assim, mesmo após ser vacinada, a pessoa deve continuar a observar todas as medidas preconizadas para a sua proteção e contenção da transmissão. As máscaras, o distanciamento e as regras de etiqueta respiratória evitam que possamos infetar outras pessoas caso sejamos portadores do vírus sem o saber.

Lembre-se que a COVID-19 se transmite através de gotículas expiradas pelo nariz ou boca, particularmente ao falar ou tossir. Também pode ser transmitida tocando nos olhos, nariz e boca após contato com objetos ou superfícies contaminadas.

Vacine-se sem receio, esperando para o efeito o contato dos serviços de saúde!

OPINIÃO -
Movember… quando um bigode dá que falar!

Embora este ano um pouco camuflado atrás da máscara, deixei mais uma vez, durante este mês de novembro, crescer o meu bigode. Podia ser uma justa homenagem ao meu pai, que durante anos fez do seu bigode a sua imagem de marca, mas não é esse o propósito. Se por acaso reparou que, tal como eu, outros homens que conhece deixaram crescer o bigode no último mês de novembro, saiba que não é por moda, que existe um propósito.

Chama-se Movember e é uma campanha de sensibilização realizada por diversas entidades no mês de novembro dirigida à sociedade em geral e aos homens, em especial, com o objetivo de promover a consciencialização sobre as doenças masculinas, com especial ênfase na prevenção e no diagnóstico precoce do cancro da próstata.

O movimento surgiu na Austrália, em 2003, aproveitando as comemorações do Dia Mundial de Combate ao Cancro da Próstata, que se assinala a 17 de novembro. O nome – Movember – resulta da aglutinação da inicial M de “moustache” (que em inglês significa bigode) e o nome do mês em que a iniciativa decorre (novembro, em inglês “november”).

Para além do cancro da próstata, este movimento pretende sensibilizar para outras doenças masculinas, como o cancro do testículo ou a depressão masculina, promovendo uma cultura da saúde do homem.

Sabemos o quanto as questões culturais muitas vezes impedem os homens de conversar sobre estes problemas, como certos preconceitos perpetuam o seu silêncio e atrasam a procura de ajuda, muitas vezes até um momento em que a doença já se mostra irreversível.  A crença de que “um homem não chora”, por um lado, a pressão para a assunção de uma identidade de domínio e controlo, de “força”, nos mais variados aspetos da vida, a par dos mitos específicos em torno dos exames de rastreio e diagnóstico, nomeadamente à próstata, são fatores que ainda desencorajam a ida ao médico e a discussão aberta das muitas dúvidas que o assunto encerra.

O Movember surge então como um contexto facilitator deste diálogo tão urgente e necessário. Ao longo do mês de novembro, um pouco por todo o mundo, e no âmbito desta iniciativa, muitos homens que habitualmente não o fazem, deixam crescer os seus bigodes. A curiosidade que essa mudança gera nas pessoas à sua volta, é uma oportunidade para se falar sobre as doenças masculinas e a importância da prevenção e diagnóstico precoce das mesmas. Saiba que falamos de doenças de bom prognóstico, desde que detetadas atempadamente, por isso não deixe de falar sobre elas com o seu médico ou enfermeiro de família.

OPINIÃO -
Amigos, amigos, covid à parte

É com uma certa consternação que volto ao tema da pandemia nesta coluna de opinião, mas enquanto enfermeiro não posso ignorar a responsabilidade especial que me cabe na promoção de comportamentos de saúde informados e responsáveis por parte dos meus estimados leitores.

Já ninguém ignora que estamos em plena segunda vaga de infeções por COVID-19 e que os números recentes ultrapassam já em larga medida os registados nos primeiros meses do ano. Temos mais novas infeções por dia, mais doentes em cuidados intensivos e mais mortes a lamentar.

O confinamento e as demais medidas implementadas no contexto do estado de emergência decretado em março, permitiram o tão desejado achatamento da curva, ou seja, que a evolução do número de infeções e a necessidade de camas hospitalares para o respetivo tratamento não ultrapassasse o número de camas disponíveis, o que redundaria num colapso do sistema nacional de saúde e na consequente perda de vidas. A resposta dos portugueses aos apelos lançados nessa fase foi extraordinária e os efeitos foram bastante positivos e encorajadores, ao ponto de termos sido dados como exemplo noutros países da Europa.

Sucede, porém, que o confinamento é uma dinâmica antinatural para os seres humanos, no geral, e para o povo português, em particular. Somos um povo de afetos, de partilha e de confraternização. Por tradição, juntamo-nos. Juntamo-nos para celebrar. E juntamo-nos para atenuar momentos de dor. E como “a sede de uma espera só se estanca na torrente”, fomos viscerais e gregários no nosso desconfinamento. Acreditámos (percebe-se hoje que cedo demais) que tudo tinha ficado bem, tal como tantas vezes e com tanta força tínhamos desejado. Ao mesmo tempo fomos descobrindo um pouco mais acerca do vírus e agarrámo-nos à parte melhor dessas evidências, por exemplo, à de que há uma grande franja de assintomáticos, pessoas que, sendo portadoras do vírus, pouco ou nada sofrem com ele. Fomos otimistas pensando que a sorte nos incluiria nessa categoria. Voltámos por isso a juntar-nos para partilhar alegrias e dores. E o resultado disso é o aumento exponencial de casos identificados de COVID que temos testemunhado. 

No passado 14 de outubro regredimos ao estado de calamidade e a 31 de outubro novas medidas restritivas foram decretadas pelo Conselho de Ministros, estando em discussão a hipótese de um novo confinamento. Para que tal não aconteça, ou para que um novo estado de emergência seja o menos restritivo possível, o que nos é pedido, no imediato, é o cumprimento escrupuloso destas cinco regras simples:

  • distanciamento físico de pelo menos 2 metros entre pessoas;
  • uso obrigatório de máscara em espaços fechados e ao ar livre, sempre que não esteja assegurado o referido distanciamento;
  • etiqueta respiratória, que passa por tossir ou espirrar para dentro do cotovelo, um cuidado que deve ter mesmo com máscara;
  • lavagem e desinfeção frequente das mãos;
  • instalação e utilização, nos telemóveis que o permitam, da aplicação StayAway COVID.

Algumas vozes críticas têm surgido face a estas medidas, nomeadamente considerando-as inconstitucionais e lesivas da liberdade individual, porém convém não esquecer que as medidas preconizadas surgem num contexto extremamente excecional, onde outros valores e direitos fundamentais, como o direito à saúde e à vida, estão igualmente ameaçados. É certo que durante mais algum tempo será necessário adiar as confraternizações e reinventar as relações familiares e de amizade, em prol da garantia de que estaremos cá todos, com os nossos, quando tudo isto passar.

Tal como preconiza a Direção-Geral de Saúde, devemos todos ser agentes de saúde pública, lembrando sempre que “Cuidar de Si é cuidar de Todos”.