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OPINIÃO -
Mães tóxicas

Opinião de Hélder Araújo Neto

Psicólogo

 

Deixei as emoções para trás. Não as minhas, até porque não posso, nem quero, mas como tema. Nos últimos artigos versei sobre elas. Primeiro falei da importância de todas, de uma forma geral, e depois propus-me a escrever sobre cada uma, em particular, tentando descrever as suas funções e pertinência, para tentar desmistificar a ideia de haver emoções boas e más. No entanto, só escrevi sobre duas emoções, de uma forma mais extensa: o medo e a tristeza. Não descreverei as outras, quebrando assim a promessa de que o faria, porque me foi dado o feedback de que o tema das emoções, embora interessante, era demasiado abrangente, não se conseguindo fazer uma ligação direta à experiência de vida das pessoas. Não obstante, permita-me discordar dos referidos feedbacks, porque se há alguma coisa que faz parte da vida das pessoas, sendo permanente no seu dia-a-dia, são as emoções. Portanto, apesar da minha discordância, sinto que devo diversificar, uma vez que não escrevo para mim. Posto isto, o tema sobre o qual me debruço neste artigo é a toxicidade das mães.

Pretendo ser cuidadoso, e tentarei não ferir suscetibilidades. Sei que os filhos não trazem livro de instruções, e que as mães fazem o melhor que sabem, com os seus próprios instrumentos. Por essa razão, pretendo apenas tentar descrever os vários tipos de mães tóxicas, e os efeitos que podem ter na vida dos seus filhos. Embora os não descreva a todos, tento deixar aqui os mais impactantes tipos de mães tóxicas:

– A mãe super-protetora: tal como o nome indica, trata-se da mãe que se preocupa, em excesso, com os filhos. Tem medo de que lhes possa acontecer algo negativo, prestando-se, por conseguinte, a resolver tudo o que possa causar algum tipo de sofrimento. Não deixa espaço próprio aos filhos;

 – A mãe possessiva: Esta mãe não dá espaço aos filhos, tentando passar o máximo de tempo possível com eles, não por causa deles, tentando mitigar a sua própria solidão;

– A mãe dominadora deseja saber tudo acerca dos filhos. É altamente intrusiva e controladora, tomando decisões e fazendo escolhas pelos filhos. O resultado é que estes filhos tornar-se-ão, por razões óbvias, pessoas inseguras e com muita dificuldade na tomada de decisões;

– A mãe que se vitimiza: Instrumentalizar o papel de vítima é uma forma de controlo, de chamar a atenção. Esta mãe alega sofrer mais do que todas, sendo uma exímia distribuidora de culpas, sobretudo pelos filhos;

– A mãe amiga é a mãe que se considera amiga e companheira dos filhos. Abdica do seu papel de mãe, papel esse que deveria ser o modelo regulador, o exemplo, que equilibra a autoridade e o afeto;

– A mãe depreciativa é o tipo de mãe que não valoriza as capacidades ou as conquistas dos filhos, desprezando-os nas mais variadas situações. Por exemplo, se um filho apresentar uma nota de 18, esta mãe perguntará se a escala não ia até 20;

– A mãe perfeccionista: Este tipo de mãe, embora valorize as qualidades e capacidades dos filhos, nunca está satisfeita, exigindo, sempre, mais perfeição. Normalmente, não valoriza o esforço ocupando a sua atenção, apenas, nos objetivos;

Esta caracterização não é estanque. Pode haver uma mistura de características, de várias “mães”, numa só. Uma comunalidade que estas mães possuem é o de serem egossintónicas, ou seja, de se apresentarem em sintonia com o seu ego, não considerando que estejam a fazer qualquer coisa de errado.

Se reconhecer uma destas mães, na sua, provavelmente perceberá de onde vêm algumas das características, que lhe causam sofrimento, como a dificuldade na tomada de decisão, nos medos, na insatisfação, e em tantas outras. Neste sentido, pergunte-se quais são os seus direitos, reconheça o seu valor e a sua capacidade de assumir compromissos. O objetivo é tornar-se alguém que se pode nutrir, amar e cuidar. A partir deste ponto, pode começar a ter um relacionamento saudável com a sua mãe, sendo capaz de identificar as suas próprias características tóxicas e a recusar-se a transmitir esse legado aos seus filhos. 

No entanto, embora a perspetiva seja encorajadora, este é um caminho difícil. A terapia é necessária, no âmbito deste processo, para que possa haver validação e reconhecimento. É muito difícil desenvolver este “processo de acusação” às mães, por causa dos sentimentos de culpa envolvidos e do tabu que essa questão encerra. Assim, costumo recomendar aos meus pacientes que evitem confrontar a mãe tóxica, uma vez que elas não aceitarão a responsabilidade, resultando a discussão com a mãe a acusar os filhos de estarem errados ou loucos.

OPINIÃO -
Amares é tradição!

Opinião de Mário Paula

 

Escrevo este artigo com assumida vaidade alheia por motivos de alegrar todos os amarenses. É  certo que nos dois últimos anos nos vimos privados da azáfama dos eventos populares, desportivos e sociais. Foram muitos os eventos que retomaram a sua normal atividade. As dificuldades inerentes a dois anos de interregno, não foram desculpa para os amarenses, que em muito contribuíram para os eventos concelhios. Foi, pois, com muita pompa e circunstância que a população em geral aguardava as festividades tradicionais.

É certo que com orçamentos bem mais curtos, as Festas D’Amares e a Feira Franca de Amares foram um sucesso, preservando assim as nossas mais belas tradições! Congratulo as suas direções, que em muito honraram e elevaram duas das festas mais emblemáticas do nosso concelho, preservando a nossa identidade enquanto cultura e enquanto concelho! A aposta na “prata da casa” nos seu cartazes, como por exemplo, Daniel Fernandes, Dj John Mayze e Miguel Faria, Dj Carlos Silva, DJ André Sousa, Inês Almeida e muitos outros, através das mais variadas associações culturais do nosso concelho. Sem dúvida que constituiram um marco para os nossos jovens e para a população um extremo orgulho por verem “os seus” a vingarem em palcos que são de todos os amarenses. 

No que diz respeito aos eventos desportivos, não poderia deixar de mencionar nos “motores”, o regresso do Raid Enduro de Amares e do Raid 4×4 de Amares. No futebol, a I edição do torneio João Barbosa de Macedo, organizado brilhantemente pelo Futebol Clube de Amares. Destacar o Urban Fit Race que já alcança todo o país, e, nesta edição contou com mais de um milhar de atletas. Uma prova que percorre o nosso belo concelho e que, com certeza, interessa a todos os intervenientes que a mesma permaneça por Amares.

É com um agradecimento especial a todos os que se envolveram na organização – que vão muito além dos mencionados aqui – destes eventos que permitiram a todos os amarenses e a todos os que visitaram Amares, terem o melhor da nossa terra, a alegria, as gargalhadas, a adrenalina, o bailarico e o convívio!

OPINIÃO -
Dia Mundial da Criança

Opinião de Marco Alves

 

As bolas de sabão que esta criança

Se entretém a largar de uma palhinha

São translucidamente uma filosofia toda.

Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,

Amigas dos olhos como as cousas,

São aquilo que são

Com uma precisão redondinha e aérea,

E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,

Pretende que elas são mais do que parecem ser.

Algumas mal se vêem no ar lúcido.

São como uma brisa que passa e mal toca nas flores

E que só sabemos que passa

Porque qualquer cousa se aligeira em nós

E aceita tudo mais nitidamente.

 

Hoje, 1 junho, comemora-se o Dia Mundial da Criança. Esta efeméride assinalou-se pela primeira vez em 1950 por iniciativa das Nações Unidas, com o objetivo de chamar a atenção para os problemas que as crianças enfrentavam. Nesse mesmo dia, os Estados-Membros reconheceram que todas as crianças, independentemente da raça, cor, religião, origem social, país de origem, têm direito a afeto, amor e compreensão, alimentação adequada, cuidados médicos, educação gratuita, proteção contra todas as formas de exploração e a crescer num clima de Paz e Fraternidade.

Sem debater o tema, deixo aqui duas notícias da semana anterior para que o leitor faça uma profunda reflexão:

– “Bebé encontrado sozinho em rua de Braga já estava sinalizado e será institucionalizado.”

– “Crianças portuguesas não vivem em casas saudáveis, avisa UNICEF.”

As crianças são o futuro do nosso mundo, se educarmos desde cedo com bons pensamentos, palavras e ações, elas não necessitarão de ser penalizadas enquanto adultos.

OPINIÃO -
A relevância da percepção dos consumidores

As organizações vivem em contante aprendizagem, superação e resiliência procurando adaptar, corresponder e surpreender positivamente os cliente e consumidores, tentando apresentar produtos e serviços certos, a um preço certo, distribuídos no sítio (físico e/ou online) certo e comunicados de forma eficiente e atrativa.

A insatisfação dos consumidores mais exigentes contribui para uma verdadeira oportunidade de crescimento e inovação, promovendo a melhoria continua e para uma contante adaptação das organizações ao mercado cada vez mais exigente.

A reclamações dos clientes são essencialmente, histórias, experiências e vivências concretas de consumo, cuja análise, gestão e resolução são fundamentais para o sucesso contínuo de um empresa. Por outras palavras, o sucesso das empresas depende muito da forma como esta atrai, gere e mantem os seus clientes, bem como, na capacidade de nutrir, alimentar, cuidar e torna-los cada vez mais relevantes para o seu negócio.

A insatisfação dos clientes são, na maior parte das vezes, uma oportunidade de reconquista que os clientes dão às empresas, porque gostam das mesmas ou pretendem permanecer, pois, pior do que reclamar é não fazer nada, ignorar e nunca mais voltar, procurando alternativas na concorrência. Um consumidor que não tem interesse numa empresa ou nos seus produtos, não gasta energia ou tempo a fazê-lo e pior do que isso a empresa está a perder clientes e não sabe as razões do abandono dos mesmos.

Dar ouvidos e atenção aos clientes tem sido cada vez mais importante, procurando compreender as suas perspetivas, razões, expectativas e desejos, identificando aspetos positivos e negativos, implementando soluções personalizadas, ajustadas e diferenciadas às da concorrência, acrescentando valor nos produtos ou serviços, bem como, na relação com o cliente. 

Temos consumidores cada vez mais atentos, informados e participativos que procuram estar presentes e ativos, de forma presencial e/ou digital mostram a sua perceção, a sua opinião, elogio ou reclamação e que vão influenciando de forma concreta e partilhada as suas opiniões que vão fundamentais para a criação de novas soluções e novos produtos capazes de responder às novas exigências, numa crescente e continuada necessidade de alinhar o consumo com a sustentabilidade.

Só um alinhamento constante entre aquilo que os clientes procuram, na sua necessidade, emoção e desejo e a sua experimentação, utilização ou usufruto pode contribuir para um beneficio mútuo, entre as duas perceções e perspetivas, sendo que sem consumidores não existem empresas e estas são cada vez mais relevantes quanto mais capazes forem de surpreender positivamente os seus clientes, deixando a sua marca.

OPINIÃO -
Violência e assédio Laboral: uma ameaça à segurança e à saúde

Artigo de Alice Magalhães, Especialista em Enfermagem Comunitária e Saúde Pública

 

A violência e o assédio no mundo do trabalho são um fenómeno global, transcendendo as fronteiras de cada país, setores económicos e grupos profissionais.

A Convenção sobre Violência e Assédio (nº190), 2019, define violência e assédio como “ … um conjunto de comportamentos inaceitáveis, práticas ou ameaças originadas por uma ocorrência única ou de forma recorrente, que visam, resultam ou são suscetíveis de causar em danos físicos, psicológicos, sexuais ou económicos”.

Esta definição abrange episódios de violência e assédio “ocorridos durante, relacionados ou decorrentes do trabalho: nos locais de trabalho, incluindo espaços públicos e privados, em locais onde o trabalhador recebe pagamentos, faz pausas de descanso ou toma refeições, ou instalações sanitárias, balneários e vestiários, durante viagens relacionadas com o trabalho, formação, eventos ou atividades sociais, através de comunicações relacionadas com o trabalho (…); e, em alojamentos disponibilizados pelas entidades empregadoras, e durante as deslocações de e para o trabalho”.

Existem diferentes tipos de comportamentos, gestos e atitudes, que podem ser entendidos como violência e assédio. Esta ofensa pode ser física, psicológica e/ou sexual e pode ser perpetrada pelos pares, superiores hierárquicos, clientes/utentes, fornecedores e prestadores de serviços.

Violência física. O uso da força física contra outra pessoa ou grupo de pessoas, que resulte em danos físicos, sexuais ou psicológicos. Inclui agressões físicas, pontapés, bofetadas, esfaqueamentos, tiros, empurrões, mordeduras (OIT et al., 2002).

Violência psicológica e assédio incluem abuso verbal, assédio, bullying e mobbing, assédio sexual e ameaças, tudo isto pode causar danos emocionais significativos aos visados (ChappelL e De Martino, 2006). Podem fomentar a destruição da imagem pessoal e o isolamento, retenção de informação, calúnias e ridicularização, desvalorização de direitos e opiniões, definição de objetivos e prazos impossíveis, subutilização de capacidades, etc.(Milczarek, 2010).

Bullying e mobbing são duas formas de assédio moral, que incluem comportamentos ofensivos de forma repetida, através de tentativas de vingança, cruéis ou maliciosas com o fim de humilhar ou prejudicar uma pessoa ou um grupo de profissionais (Chappel e Di Martino, 2006).

Cyberbullying no mundo do trabalho pode ser entendido como qualquer forma de comportamento abusivo contra uma pessoa (ou grupo de pessoas) através das TIC no contexto do trabalho.

Violência sexual e assédio pode ser definida como “qualquer ato sexual ou tentativa de obtenção de um ato sexual, comentários sexuais indesejados, avanços sexuais, ou outras formas e atos (…) dirigidos, contra a sexualidade de uma pessoa através de coação, por qualquer pessoa, independentemente da sua relação com a vítima (…)” (OMS, 2002). 

Existem custos e consequências deste tipo de comportamento? Sim existem!

A violência e o assédio laboral podem afetar a saúde de uma pessoa, o seu bem-estar e dignidade, e simultaneamente ter um efeito adverso nas suas condições de trabalho. 

Para as organizações e para a sociedade, a violência e o assédio laboral:

  • Prejudicam não apenas os seus alvos imediatos, mas também as pessoas próximas. As potenciais “vítimas” incluem colegas de trabalho, familiares, pessoas amigas, pacientes e clientes;
  • Acarretam um conjunto de impactos potencialmente negativos, incluindo o elevado absentismo (devido a medo, doença ou acidentes) com necessidade de substituição de pessoal e respetivos custos de recrutamento, de integração e de formação – bem como a desmotivação, reduzido desempenho e produtividade (Nielsen e Einarsen, 2012);
  • Aumentam o risco de licença por doença em mais de 60 por cento (Nielsen et al., 2016);
  • Faz com que os trabalhadores/as expostos, tenham maior predisposição para cometer erros no trabalho e a prestar serviços de qualidade inferior. No setor dos cuidados de saúde, em particular, isto pode ter consequências potencialmente catastróficas (Mayhew et al., 2004), e resultar em litígios por negligência profissional.

Os/As trabalhadores/as têm relutância em reportar acidentes e incidentes, especialmente em caso de violência e de assédio laboral, mas só se pode intervir sobre o que se conhece. 

 

Para mais informações consulte:

https://www.act.gov.pt

https://www.direitosedeveres.pt/q/vida-laboral/seguranca-no-emprego/

https://www.cite.gov.pt

OPINIÃO -
A Gestão da mudança em tempos disruptivos

Artigo de Rafaela Silva, Economista

 

A digitalização e a consequente desmaterialização, apoiadas por tecnologias como a inteligência artificial e a realidade aumentada, serão as faces mais visíveis dos tempos de mudança exponencial em que vivemos. Relembre-se, num exercício simples, que grande parte das coisas que tínhamos em cima das nossas secretárias em finais dos anos 90, (agenda, calendário, calculadora, telefone, computador), cabem agora num único objeto: o nosso telemóvel. Deixaram de existir fisicamente. E não só deixaram de existir como, algumas delas, se tornaram gratuitas. Vêm com o telefone, e, se não gostarmos, podemos mudar para outras aplicações que são igualmente gratuitas, o que significa que para além da desmaterialização ocorreu ainda a sua desmonetização. Ora, este último efeito teve repercussões profundas ao nível dos modelos de negócios, que mudaram, passando a assentar, muitas vezes, na gratuitidade, pelo menos para níveis mais básicos do usufruto de alguns produtos ou serviços. Esta mudança profunda de paradigma, para além de demonstrar que inovações ao nível do modelo de negócio podem superar e ser mais bem sucedidas do que inovações ao nível do produto/serviço, acentuou a importância das ferramentas de gestão da mudança, e, por outro lado, destacou ainda mais a importância daquilo que se denomina de cultura organizacional. 

Se Steve Blank, percursor do termo “lean start-up”, padrinho do Sillicon Valey, vê a inovação como forma de gerir a mudança, Tarun Wadhwa e VIvek Wadhwa acreditam que, fruto da inovação e para a inovação, é preciso criar uma determinada cultura organizacional e que essa mudança começa nos líderes. 

Os líderes têm que garantir a inovação e gerir a mudança, mas, como fazê-lo? A inovação e gestão da mudança, em tempos disruptivos, fez-se, da parte das lideranças, com uma alteração de papéis. A fórmula “top down”, do topo para a base, não funciona nem na inovação nem na gestão da mudança. Os colaboradores e a gestão de topo têm que estar igualmente envolvidos. Para tal, a função do líder abandonou a noção de controlo e abraçou a noção de coaching: liderar, para inovar e/ou gerir a mudança, passou a ser oferecer um rumo, articular, definir metas, inspirar, motivar e capacitar os colaboradores para irem de encontro aos mesmos, para irem de encontro à visão do líder e ajudarem na sua materialização, não porque sejam obrigados, mas porque acreditam nela e porque nela encontram propósito. 

OPINIÃO -
A Tristeza

Opinião de Hélder Neto, Psicólogo

 

Trago a tristeza, como prometido. Contextualizando: nos últimos artigos, falei das emoções de uma forma geral, tentando descrever as suas funções e importância. Tentei também esclarecer a utilidade de todas, por via da crença generalizada de que existem emoções boas e más, essa crença que nos diz que devemos estar sempre bem, sempre alegres, em busca de emoções “positivas” e evitar as “negativas”. Esta crença que prejudica bastante a saúde mental. Pode causar, por exemple, ansiedade ou depressão, sendo, portanto, contraproducente. Este texto versará sobre a tristeza. Desejo abordar esta emoção porque, para além de o ter prometido no último artigo, este é o estado emocional de que as pessoas mais tentam fugir. Afinal, quem é que gosta de estar triste?

Inicio este parágrafo com parte do sumário de um artigo da revista Neurosciense de julho de 2019; “Os humanos não foram desenhados para serem felizes, mas sim para sobreviverem e se reproduzirem. A evolução deu relevância à depressão, considerando-a uma vantagem, uma vez que prevenia que os humanos se colocassem em situações perigosas e arriscadas”. 

A vantagem de que fala o artigo foi verificada por Joe Forgas, professor de Psicologia na Universidade australiana de New South Wales, que conduziu um estudo em que induziu emoções consideradas negativas, como a tristeza, num grupo de participantes, e emoções consideradas positivas, como a alegria, num outro grupo, monitorizando os seus desempenhos numa série de atividades. As suas conclusões demonstraram que os participantes que experimentaram emoções “negativas” tiveram melhor performance do que o outro grupo na maior parte das atividades. A memória demonstrou ser mais precisa; a comunicação foi considerada mais persuasiva e efetiva; e o julgamento parecia estar mais correto e livre de preconceitos ou outros vieses. 

A tristeza acarreta uma redução significativa do nível de energia, e de prazer nas atividades, por forma a, por exemplo, promover um ajustamento a uma perda, procurar suporte social, criar introspeção e perceber as consequências das nossas ações. Em termos evolutivos, é possível que essa perda de energia tenha tido como objetivo manter os seres humanos vulneráveis (em estado de tristeza), para que permanecessem perto de casa, onde estariam em maior segurança, instigando, dessa forma, a procura por apoio social. A tristeza também serve como um pedido de ajuda, produzido de forma instintiva. Se observarmos um bebé, vemos que quando este sente algum desconforto recorre ao choro para conseguir a ajuda de que precisa. Assim, de um modo geral, o ser humano, sendo eminentemente um ser social, tende a ajudar os seus semelhantes quando estes demonstram algum tipo de tristeza ou sofrimento.

Numa outra perspetiva, olhando o seu lado positivo, a tristeza, é também responsável por obras de arte como o “Só”, obra literária, maior, de António Nobre, a pintura de Monet “O Amor Por Camille”, a “Lacrimosa”, composição de Mozart, ou “The Eternal” da banda musical “Joy Division”, citando apenas alguns de entre uma infindável quantidade de exemplos.

Em jeito de conclusão, da próxima vez que sentirmos alguma emoção, lembremo-nos deste artigo e escutemos a mensagem, tentando perceber o que a emoção nos está a dizer e qual a sua função. É muito importante possuirmos a noção que estas emoções são informações, por oposição a ordens, podendo nós decidir o que é melhor para nós. As mensagens que as emoções transmitem são demasiado importantes para serem ignoradas, sendo que, por isso, tentar ignorá-las ou evitá-las só faz com que elas se intensifiquem e sejam mais frequentes.

OPINIÃO -
Planeamento de emergência em Proteção Civil

Artigo de João Ferreira

 

Sabe o que é um plano? Com certeza que sabe, constantemente de forma natural já delineou um. Programar uma ida a um lugar, o que precisa para chegar a esse lugar, o tempo que demorará com e sem imprevistos, qual o melhor ou mais rápido percurso, mas sobretudo, qual a melhor estratégia para não correr riscos. A todo este processo chama-se planeamento.

Como funciona o planeamento em emergência de Proteção Civil e qual a estrutura de um Plano?

Bem, antes de mais os planos de emergência quanto ao seu âmbito ou extensão territorial podem ser Nacional, Regional, Distrital, Municipal e quanto à sua finalidade podem ser Gerais ou Especiais. Os planos especiais podem abranger áreas homogéneas de risco de extensão supra municipal (entre municípios) ou supra distrital (entre distritos).

Assim, planeamento é um processo que engloba análise, organização, planificação e coordenação dos recursos disponíveis para as fases de mitigação/ preparação/ resposta/ recuperação de situações de emergência grave na comunidade local.

Os planos de emergência de proteção civil são, assim, documentos desenvolvidos com o intuito de organizar, orientar, facilitar, agilizar e uniformizar as ações necessárias à resposta. Como tal, deverão permitir antecipar os cenários suscetíveis de desencadear um acidente grave ou catástrofe, definindo, de modo inequívoco, a estrutura organizacional e os procedimentos para preparação e aumento da capacidade de resposta à emergência.(Fonte:ANEPC)

Tipicamente a sua concepção divide-se em quatro etapas cíclicas: Elaboração, Aprovação, Validação e Revisão

Os planos de emergência devem ser estruturados em três partes: Parte I – Enquadramento, Parte II – Execução e Parte III – Inventários, Modelos e Listagens. 

Usemos como exemplo e a uma escala local o Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil (PMEPC). Este é elaborado pela câmara municipal, carece de dois pareceres positivos, um da Comissão Municipal de Proteção Civil e um outro da ANEPC, sendo positivos passa para a etapa de apreciação e aprovação efectuada pela Assembleia Municipal. A terceira etapa (validação) passa por realizar exercícios com uma periodicidade máxima de dois anos, por fim e de forma cíclica a revisão deverá ser realizada no prazo máximo de 5 anos, podendo ser excepção este período relativamente aos planos especiais.

Sabia que pode fazer parte deste processo? A elaboração dos planos de emergência de proteção civil inclui uma fase de consulta pública das suas componentes não reservados e no final da consulta pública, a entidade responsável pela elaboração do plano deverá integrar no plano as observações pertinentes apresentadas, bem como elaborar e submeter à comissão de proteção civil territorialmente competente um relatório da consulta pública no qual se explicite o período durante o qual a mesma decorreu, os meios utilizados, os contributos recolhidos e a sua incorporação no plano.

Após a aprovação, compete à entidade responsável pela elaboração do plano assegurar a correspondente disponibilização pública, nomeadamente no respetivo sítio da internet assim como a ANEPC disponibilizará no Sistema de Informação de Planeamento de Emergência – SIPE. Pode consultar estas e outras informações na Resolução n.º 30/2015, de 7 de maio, da Comissão Nacional de Proteção Civil e/ou na página da ANEPC. 

Seja participativo em acções de Proteção Civil. Cada vez mais o cidadão tem um papel preponderante, desde a preparação à mitigação, da resposta à reabilitação.

Assim teremos garantidamente, uma comunidade mais resiliente.

OPINIÃO -
O medo

Opinião de Hélder Neto, Psicólogo

 

No último artigo tentei desmistificar a ideia de que existem emoções boas e más, instigando o leitor a percebê-las todas como úteis e importantes. Descrevi as seis emoções, comummente consideradas universais, quanto à sua função e utilidade, mas de uma forma sucinta, por isso pretendo, nesta crónica, e nas próximas, descrever cada uma de uma forma mais extensa. Volto, desta forma, à temática das emoções por ser, na minha opinião, assunto extenso e importante. Posto isto, versarei, desta vez, sobre o medo. 

O nosso cérebro tem muitos milhares de anos de evolução, sendo a maior parte desse tempo dedicado à programação de uma vivência do ser humano imersa num ambiente no qual se verificavam constantes ameaças à sobrevivência da espécie, ameaças essas relacionadas com as temperaturas extremas, infeções, predadores, escassez de alimentos, entre outras. Essa evolução dotou-nos de um leque de emoções que permanecem até hoje, por via de nos garantirem mais hipóteses de sobrevivência. Entre essas emoções está o medo, uma emoção que nos prepara para lutar ou fugir sempre que nos sentimos ameaçados. Em termos de sobrevivência da nossa espécie, esta emoção tem vantagens indiscutíveis. Quem tivesse medo e se preocupasse com os barulhos na floresta, ou em ter alimentos suficientes para passar o inverno, teria muito mais hipóteses de sobreviver do que quem estivesse despreocupadamente a apreciar a paisagem ou a relaxar junto de um riacho. Somos herdeiros desses nossos ancestrais carregados de medos. 

Como já foi referido, esses medos foram necessários à nossa sobrevivência, conquanto que, esses comportamentos fossem sendo ajustados na medida certa, sempre em prol da continuidade da nossa espécie. Assim, um comportamento demasiado prolongado de fuga ou evitamento colocar-nos-ia numa situação de desvantagem, visto que o sucesso da preservação da espécie exige reprodução que, por sua vez, dependeria de atividades de alimentação, abrigo e acasalamento, ações estas incompatíveis com a fuga e evitamento. Este tipo de comportamento – fuga e evitamento de situações potencialmente ameaçadoras – é observado, atualmente, em psicopatologias, tais como a perturbação de ansiedade social. Felizmente, existem tratamentos para essas perturbações, proporcionando, por conseguinte, a contribuição para a perpetuação da humanidade, tal como homologamente, teria ocorrido, potencialmente no tempo dos nossos ancestrais das cavernas. 

Nos últimos anos, em termos evolutivos, demos um salto. As emoções poderão estar ligeiramente desajustadas com as necessidades ambientais. Neste sentido, quando passamos em frente a uma confeitaria, e olhamos uma bola-de-berlim, as nossas emoções, bem assim como o nosso instinto, dizem-nos para comê-la. Todo aquele açúcar remete para ganhos de energia, sendo essa energia essencial para fugirmos de um tigre dentes-de-sabre, quando necessário. O problema, nos dias de hoje, é que não fugimos de tigres. 

Todavia, esta emoção, que nos ajudou a sobreviver como espécie, é poderosa e está tão arreigada em nós que é utilizada para nos instrumentalizar. Podemos observar essa instrumentalização em vários aspetos da nossa vida quotidiana como, por exemplo, quando somos exaustivamente submetidos, pelos media, a notícias sobre guerras, sobre vírus, sobre vulcões, sobre a seca, e sobre tantas outras tragédias. Este fomentar dos nossos medos mais profundos, como se estivéssemos em perigo constante, serve para dar lucros aos media, através de audiências, e serve, também, interesses mais obscuros, como a indústria de armamento ou a indústria farmacêutica, para só citar estes. Um último exemplo da utilização do medo manipulador está nos políticos que o usam para ganharem votos, no caso das democracias, ou para controlarem as populações, no caso das ditaduras. 

Sinto sempre que, quando estou a querer aprofundar os temas que aqui escrevo, o espaço se evapora. Assumo, com naturalidade, que muito mais poderia ser escrito. Parece-me, no entanto, que o essencial se encontra devidamente explanado. Sigo para o próximo artigo, para a próxima emoção. Sigo para a tristeza.

OPINIÃO -
Uma necessidade emergente

Opinião de Mário Paula

 

A Comunidade intermunicipal do Cávado é uma associação de municípios  na qual o nosso município está inserido, que possui um relevo preponderante em matéria de desenvolvimento territorial, onde marca a diferença na capacidade de combinar políticas de competitividade e de coesão territorial no que diz respeito a todo o seu território. A mesma é constituída pelos municípios de Amares, Barcelos, Braga, Esposende, Vila Verde e Terras de Bouro.

Na qualidade de deputado da assembleia intermunicipal da CIM Cávado eleito por Amares, marquei presença, no passado dia 26 do mês anterior, na respetiva assembleia da nossa comunidade intermunicipal, onde foi levado até à mesma nos períodos da ordem do dia, uma proposta de apoio a uma problemática à qual nos afeta diretamente a todos, mais propriamente ao nosso concelho de Amares. Como é sabido por todos, o concelho de Amares não está classificado na sua maioria como território de baixa densidade, excetuando as freguesias de Bouro (Santa Marta), Goães, UF de Caldelas, Paranhos e Sequeiros e da UF de Vilela, Seramil e Paredes Secas. 

Para ser sucinto e explicito, quando comparamos Amares com os territórios vizinhos, nomeadamente Terras de Bouro; Povoa de Lanhoso e Vila Verde, estes classificados como de baixa densidade, com base em critérios como o rendimento per capita, não encontramos diferenças que justifiquem as desigualdades criadas com a metodologia que serviu de base para a deliberação da entidade competente, tornando Amares num parente pobre entre os concelhos vizinhos.

Efetivamente, existe um forte impacto desta classificação nas oportunidades de crescimento, competitividade e desenvolvimento, nomeadamente ao nível do tecido social, económico e empresarial de Amares.   Por exemplo, a dificuldade na captação de investimento, onde alguns projetos e candidaturas localizadas no município, não são simplesmente valorizadas e majoradas, ficando as mesmas pelo caminho, causando assim um retrocesso lamentável.

Torna-se assim essencial, que não baixemos os braços e lutemos por este assunto que diz respeito ao nosso concelho e à sua necessidade emergente em tornar o mesmo como classificação de baixa densidade.

É necessário, enaltecer e congratular, o papel do Conselho intermunicipal do Cávado que juntamente com o município de Amares e todas as forças políticas, exemplarmente, apreciaram e votaram favoravelmente à deliberação dos cinco municípios que a compõe para assim fazer chegar ao poder central, as pretensões que todos os amarenses desejam, tornar todo o território do nosso concelho, classificado como de baixa densidade.